"Dá um nervoso", diz Carol Duarte ao Estadão, menos de duas horas antes de fazer a "montée de marches", a caminhada no imponente tapete vermelho em formato de escadaria do Festival de Cannes, usando um vestido da Maison Zeti, uma grife da Geórgia. É sua segunda vinda a Cannes, com seu segundo longa-metragem, mas a primeira em competição.
Em 2019, A Vida Invisível, dirigido pelo brasileiro Karim Aïnouz, participou da seção Um Certo Olhar, levando o prêmio principal. Neste ano, ela está na produção italiana La Chimera, da italiana Alice Rohrwacher (As Maravilhas, Lazzaro Feliz), que concorre à Palma de Ouro. "É muito especial estar aqui novamente", disse a atriz em entrevista ao Estadão, um dia antes da sessão de gala, na tarde desta sexta-feira (26).
No filme, ela interpreta Italia, uma brasileira que troca o trabalho doméstico por aulas de canto com Flora (Isabella Rosselini). Ela é sogra de Arthur (Josh O'Connor, de The Crown), um inglês que vive de roubar túmulos etruscos na Itália.
O Estadão acompanhou parte de seu dia e conversou com a atriz, no bate-papo a seguir.
Como é voltar a Cannes, agora na competição?
Para mim é muito especial estar aqui pela segunda vez. É meu segundo filme. Primeiro eu vim com A Vida Invisível, agora com La Chimera, na mostra competitiva. É super emocionante. É engraçado, porque Cannes é um festival que abre mesmo seu trabalho para o mundo. Foi meu primeiro festival da vida e agora retorno com um filme italiano, o Karim está aqui também com um filme britânico. É muito especial. É um dos maiores festivais do mundo e abre o nosso trabalho para o mundo conhecer. Tem grandes realizadores aqui, neste momento. Eu me sinto muito honrada de estar aqui com um filme tão bonito, que é La Chimera.
Como foi parar nesta produção italiana dirigida pela Alice Rohrwacher?
É curioso, porque a Hélène Louvert foi diretora de fotografia do filme A Vida Invisível. Como a Hélène é sempre a fotógrafa dos filmes da Alice, que tinha visto A Vida Invisível, acho que rolou uma indicação. A Alice estava procurando fazia muito tempo a atriz para fazer essa personagem que é bem peculiar, está em um tom cômico, mas também não está. Então a busca era bem específica. A gente fez um teste por zoom no final do ano e foi tudo muito rápido, depois de duas semanas eu estava na Itália fazendo quarentena para iniciar o filme. Foi assim que aconteceu.
Quem é essa personagem chamada Italia?
Ela é uma personagem em um filme que se passa nos anos 1980, que fala sobre os tombarolis, as pessoas que roubam artefatos arqueológicos. E o Josh O'Connor, que faz o personagem Arthur, é o protagonista, é o grande tombaroli do filme. A minha personagem é um pouco o contraste desse personagem do Josh. Ela é uma personagem super luminosa, tem um tom cômico, mas não óbvio. É uma mulher forte, que abre horizontes diferentes naquele universo de La Chimera.
A Isabella Rosselini é uma grande atriz, além de ser realeza do cinema, por ser filha de Ingrid Bergman e Roberto Rosselini. Como foi contracenar com ela?
É muito doido porque, quanto mais eu conheço essas grandes atrizes - eu trabalhei com a Fernanda Montenegro em A Vida Invisível -, mais eu percebo uma generosidade que é muito emocionante. A Isabella foi uma parceira de cena muito sensível. É uma mulher que tem uma experiência não só de vida dela, mas das pessoas que a precederam, a Ingrid Bergman e o Roberto Rosselini, que são figuras centrais na história do cinema mundial. Ela é muito generosa. Foi muito gostoso estar em cena com ela. Eu me senti honrada de conhecer uma grande atriz e ver que a generosidade está nela. É encantador.
Depois de Cannes, quais os seus projetos?
Estou em cartaz com uma peça chamada Babilônia Tropical. E tem um novo projeto a ser lançado, um filme chamado Malu, primeiro longa de Pedro Freira, com Yara de Novaes e Juliana Carneiro da Cunha.