Fernanda Torres virou o centro das atenções no Brasil e no mundo após ganhar o Globo de Ouro de Melhor Atriz por sua performance no filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles.
A atriz deu uma longa entrevista ao Estadão em 2018, para o repórter Morris Kachani, à época do lançamento do livro A Glória e Seu Cortejo de Horrores (Companhia das Letras).
Na ocasião, Fernanda discorreu sobre diversos temas como política, narcisismo, intolerância, atuação e fracasso. Resgatamos alguns dos melhores trechos do papo.
Intolerância
"Há também um engajamento crescente no mundo. A luta de grupos identitários por direitos, pelo fim da homofobia e da violência contra a mulher. Tudo urgente, justo e bem-vindo. Há uma radicalidade crescente, necessária, talvez, para que as transformações aconteçam, para que um crápula como Harvey Weinstein perca o poder de acabar com a carreira de atrizes que se negaram a lhe prestar uma massagem íntima. Mas considero exagero, loucura, a condenação das fantasias de carnaval de índio, árabe, nega fulô e cigano; ou a ideia de que a identidade de gênero é um fenômeno apenas cultural."
"O mundo mudou muito. Nos anos setenta, quando cresci, o sexo era o símbolo máximo da liberdade [...] Era naquele tempo em que ainda se fumava nos aviões e se comia margarina, achando que fazia bem para o coração. Hoje, estaríamos todos condenados à forca e à execração. Há o espírito do tempo, que é difícil de ser compreendido por gerações diferentes. Sinto uma certa truculência de todos os lados, uns tratando os outros como completos imbecis, sem que ninguém se escute de fato. Há muita intolerância no ar."