"Corações não precisam de palavras para se entender", diz o ganso veterano Pescoçudo ao pupilo Bico-Vivo em determinado momento de Robô Selvagem, nova animação da DreamWorks que mistura elementos de ficção científica com reflexões sobre amor, ecologia e a busca pela identidade.
O filme que chega aos cinemas brasileiros em 10 de outubro, desde já um dos favoritos ao Oscar 2025, é baseado no livro homônimo (Intrínseca; 288 págs.) e best-seller do autor Peter Brown, conhecido pelos trabalhos para o público infantil. A história segue Roz, uma robô que naufraga em uma ilha selvagem e precisa se adaptar ao ambiente hostil, onde acaba se tornando mãe adotiva de um filhote de ganso órfão e faz amizade com a raposa Astuto.
Nas mãos do diretor Chris Sanders, mente por trás dos sucessos Lilo & Stitch (2002), Como Treinar o Seu Dragão (2010) e Os Croods (2013) - por quais recebeu três indicações ao Oscar -, a obra é transportada para as telonas com o objetivo de atrair não apenas as crianças. "Garantimos que não estamos excluindo ninguém. Acho que está tudo bem ter coisas em um filme que talvez o público mais jovem não entenda completamente. Lembro-me de quando eu era criança, eu assistia filmes e não entendia 100% do que os personagens estavam dizendo o tempo todo. Mas se eu entendesse a narrativa maior, ainda assim eu gostava", explica o cineasta de 62 anos ao Estadão.
Os traços artísticos de Robô Selvagem refletem uma mistura de influências. Há ecos de produções clássicas da Disney como O Rei Leão (1994) e A Bela e a Fera (1991), nos quais Sanders trabalhou no começo de carreira, mesclados à expressividade de Hayao Miyazaki, fundador do cultuado estúdio japonês Studio Ghibli.
O design da androide protagonista remete aos queridos WALL-E e O Gigante de Ferro e entra para a galeria das criaturas não humanas de Sanders, depois do alienígena Stitch e do dragão Banguela. "Robôs são eficazes em contar histórias humanas. Esses tipos de criaturas fantasiosas, incomuns, mantêm nossa atenção e capturam nossa imaginação", explica, antes de refletir sobre sua evolução na profissão. "Aprendo alguma coisa em cada produção, inclusive no live-action O Chamado da Floresta (2020, no qual ele dirigiu o astro Harrison Ford). Nunca quero fazer algo que seja muito similar porque seria uma má ideia e você pode estagnar como cineasta. Também procuro trabalhar com pessoas diferentes", diz.
Referência no gênero, o diretor não nega que as animações infantis precisam ter uma mensagem moral fofa no final. Mas isso atrapalha ou ajuda? "Todo filme precisa ter uma ideia central. No caso deste, tivemos temas realmente poderosos que vieram do livro de Peter Brown. Então, parte disso foi traduzir esses temas para a tela. Sempre temos que fazer mudanças, reduzimos [a presença] de alguns personagens para que tivéssemos espaço para outros temas", responde ele.
Na versão original do longa-metragem, Lupita Nyong'o (Nós), Pedro Pascal (The Last Of Us), Mark Hamill (Star Wars) e Bill Nighy (Viver) são alguns dos astros de Hollywood que emprestam suas vozes aos personagens - escalações que acarretaram num processo constante de readaptação. "Uma vez que um ator concorda em fazer a voz para o filme, eu imediatamente volto, mesmo antes da primeira sessão de gravação, e personalizo o diálogo para aquele ator específico. Quando nos reunimos para trabalhar nas cenas, sempre há improvisação e isso novamente me fará voltar e fazer reescritas", explica o realizador.
Até o fim de setembro, Robô Selvagem arrecadou U$ 54 milhões mundialmente e recebeu excelentes críticas, cristalizando seu lugar em uma era na qual os filmes animados são extremamente valorizados. Em 2024, outros êxitos no formato foram Kung Fu Panda 4, Meu Malvado Favorito 4, Garfield - Fora de Casa e Divertida Mente 2. "A animação neste ano está realmente dominando. Está mais vital do que nunca, visto que existem cada vez mais produções. Quando eu comecei, só havia realmente um grande estúdio e agora há muitos mais. Isso diz muito sobre a saúde do setor como um todo", analisa Sanders.