Sting: Aranha Assassina, que estreia nesta quinta-feira, 5, nos cinemas, é um filme que chega em 2024 com o pé no passado. Afinal, o longa-metragem não esconde suas intenções óbvias: recriar o clima, a tensão e as histórias dos longas de animais assassinos que encheram os cinemas nos anos 1970, 1980 e 1990, com filmes como Anaconda, Aracnofobia e Orca.
Para isso, o diretor e roteirista Kiah Roache-Turner (do trash Wyrmwood) toma duas decisões claras. Primeiro, coloca uma criança como protagonista - é Charlotte, garotinha que "adota" uma aranha que encontra na casa da avó, sem saber que é uma alienígena pronta para ter o tamanho de um cachorro e matar pessoas por aí. Criança, aliás, com toda a cara dos pequenos que protagonizaram filmes à exaustão também naquelas décadas.
A outra decisão é exagerar em tudo: nas atuações, sempre com mais caras e bocas do que precisa; na forma de filmar, com a câmera correndo, com zoom exagerado e coisas do tipo; e com uma fotografia que parece ter vontade de borrar a imagem, torná-la menos digital, como se estivéssemos vendo um VHS que foi encontrado perdido dentro de uma gaveta.
Recriar sem criar
São ideias boas, principalmente quando vivemos em um tempo em que esses resgates miméticos são feitos aos montes nos cinemas, desde o blaxploitation até o faroeste. Nesse sentido, Roache-Turner vai bem: dá um ar de nostalgia e o longa-metragem, mesmo sem dizer nada, provoca esse reencontro entre espectadores com os tais animais assassinos.
Mas será que isso basta? Uma boa fotografia, uma recriação crível? O fato é que Sting: Aranha Assassina cumpre muito bem o requisito de recriar, mas nunca chega nem perto de saber criar algo. No começo do ano, por exemplo, o cineasta Luc Besson recriou bem o cinema camp, termo que está em alta, ao voltar ao ridículo do seu cinema de 20 anos atrás. E, mais do que recriar, Besson mostrou um novo caminho, novas ideias para o tal camp.
Roache-Turner, porém, parece um filme da franquia VHS, que ganha três ou quatro filmes por ano: é apenas uma imitação. É o desejo vazio de recriar uma nostalgia. Enquanto Sting passa na tela, não há espaço para aproveitar a história - o espectador é provocado apenas a lembrar de como as aranhas de Aracnofobia eram bizarras ou como algumas ideias ou até movimentos de câmera são só reproduções de Cujo, sentindo falta desse filme também.
O cenário de Sting fica ainda mais desanimador quando pensamos que 2024 nos proporcionou um outro filme sobre aranhas matando pessoas: Infestação. O filme, que ficou só duas semanas em cartaz no Brasil, se vale das aranhas para tecer um comentário social interessantíssimo. Até há emulação desses filmes de 30, 40 ou 50 anos atrás, mas não é o foco da coisa - isso é apenas um dos elementos que formam as ideias centrais da história.
Sting: Aranha Assassina, em último caso, pelo menos faz com que o espectador pense: qual é o caminho que devemos seguir para recuperar antigos estilos cinematográficos? É pela reprodução vazia de Sting, que está feliz em ser uma réplica do passado, como se fosse uma peça de museu fabricada anteontem? Ou é o caminho de Infestação, de Dogman ou, indo além, de Kill Bill e o cinema de artes marciais, por exemplo? Parece bem óbvio.
O novo filme pode até provocar um riso aqui e acolá, e até poderia ser um bom filme sobre um alienígena-aranha, ao melhor estilo das histórias de Ed Wood. Mas, convenhamos, se é pra reviver o passado, só assistir ao que já foi feito. A nostalgia é um bom ponto de partida, mas nunca um bom final. Senão, ficamos apenas no vazio da memória de ideias passadas.