Estreia nesta sexta-feira (29) a mais pomposa das produções brasileiras da Netflix. A minissérie "Senna", que traz o prodígio Gabriel Leone na pele do automobilista ídolo da nação, que morreu de forma precoce aos 34 anos, parece ser a primeira da nova leva de investimentos da gigante do streaming em atrações latinas --outras produções prometem se unir a "Senna" para formar este grupo de destaque da América do Sul, com a argentina "O Eternauta" e a colombiana "Cem Anos de Solidão". Mas a brasileira, apesar do alto investimento e do elenco magistral, não foi capaz de escapar de algumas polêmicas que acompanham a história de seu biografado.
Na trama, acompanhamos em seis episódios a trajetória de Senna da infância à morte, indo rapidamente de suas passagens pelo Kart, Fórmula 2000 e Fórmula 3 até chegar à Fórmula 1. A série destaca tanto seu espírito competitivo quanto a relação difícil com a imprensa inglesa, a fim de mostrar como (e por que) Ayrton se estabeleceu como um ídolo, ao expandir a popularidade de um esporte majoritariamente europeu e de elite. Mas o retrato de um ídolo casto deixa em segundo plano todas as incongruências que fazem parte da construção de um herói.
O envolvimento direto da família na série conversa com o controle de narrativa executado na atração, que dedica pouco mais de dois minutos de cena a Adriane Galisteu, que era namorada de Senna na época de sua morte mas conquistou a antipatia de seus familiares.
Ao invés de Galisteu, é Xuxa quem ganha os holofotes como o grande amor do piloto, e este e outros detalhes são suficientes para irritar preciosistas.
Galisteu 'boicotada'
Segundo informações do portal Notícias da TV, a irmã de Ayrton, Vivianne Senna, foi quem tentou excluir Adriane Galisteu e cortar totalmente sua participação no seriado.
No entanto, isso criou um impasse com a Netflix, que cogitou desistir do projeto caso tal impeditiva fosse concretizada. Vivianne não queria nem mesmo que a apresentadora fosse mencionada na atração, o que para o streaming seria incabível.
Para acabar com o impasse, as duas partes parecem ter chegado a um meio-termo. A ex-modelo, que namorou o piloto nos seus últimos 18 meses de vida, está presente na reconstituição fictícia --mas de uma forma reduzida que não agradou à audiência.
Nas redes sociais, a tentativa de barrar Galisteu é um tópico quente, que desperta a curiosidade e faz alguns torcerem o nariz para o tratamento dado à apresentadora pela família Senna.
Mas de onde vem tamanha antipatia?
Em 1996, em entrevista ao semanário francês Paris Match (via Folha de S. Paulo), Viviane acusou a ex-modelo de "se promover" em cima da morte de Ayrton.
"Se ela precisa de dinheiro, deveria trabalhar, como todo mundo, e parar de explorar a imagem de um morto", afirmou. Na ocasião, ela recusou a imagem de Adriane como "viúva" de Senna e negou que o piloto pensasse em casar com a mesma. "Ayrton queria formar um lar, mas não tinha encontrado a mulher ideal. Ela era apenas sua namoradinha do momento, como muitas outras antes dela."
Na mesma entrevista, Vivianne se recusou a explicar por que, durante o enterro do piloto, Adriane foi hostilizada e sua entrada no carro que levava os parentes, barrada. "Não posso evocar os problemas que essa moça causou à nossa família e que determinaram nossa posição. Pois, se o fizesse, exporia certos aspectos da vida privada de Adriane. E eu não tenho esse direito", justificou.
Envolvimento da família em produções sobre a vida do piloto
Este não é o primeiro projeto sobre Ayrton Senna que tem o envolvimento de seus familiares. O elogiado documentário "Senna: O Brasileiro, o Herói, o Campeão" (2010), de Asif Kapadia, também foi aprovado pela família, assim como a série documental do Globoplay "Senna por Ayrton", que de fato sequer menciona Adriane Galisteu.
Em projetos de cunho biográfico, o selo de "biografia autorizada" sempre é um assunto sensível, visto que o controle da narrativa e a exclusão de polêmicas ou assuntos indesejados é facilitada.
A atriz Julia Foti, que interpreta Adriane Galisteu na série da Netflix, disse em maio deste ano que admirava muito a apresentadora. "Se eu não a conheci ainda, não foi por falta de vontade", escreveu a atriz, direcionada pela produção a não a procurar.
"Senna" estreia nesta sexta-feira na Netflix, com seis episódios.