Especulações que circulam há alguns meses em Hollywood sugerem que J.K. Rowling possa perder os direitos da saga Harry Potter. Segundo o insider Jeff Sneider, as constantes polêmicas em torno da autora poderiam levar a Warner Bros. Discovery a comprar os direitos dos personagens e, consequentemente, histórias ambientados no mundo mágico criado pela escritora.
Em uma edição recente de sua newsletter The InSneider, o repórter famoso por divulgar vazamentos e rumores da indústria do cinema comentou sobre um anúncio de uma série de audiolivros de Harry Potter, e sugeriu que "isso seria Rowling tentando fazer o máximo da série enquanto ela ainda pode".
No texto, Sneider escreveu:
"Lendo nas entrelinhas deste anúncio, parece que Rowling está espremendo Harry Potter o máximo antes de a WBD inevitavelmente comprar os direitos para tirá-la do caminho, já que os astros originais [dos filmes] não vão voltar enquanto ela estiver envolvida."
Embora seja apenas especulação, a ideia de tirar J.K. Rowling da linha de frente de Harry Potter de fato resolveria um grande problema para a Warner, que detém os direitos de adaptação e está até mesmo desenvolvendo uma série reboot da franquia para a Max. As declarações de Rowling no que diz respeito a identidade de gênero, consideradas transfóbicas por muitos, geraram muitos debates controversos entre fãs e "ex fãs" do bruxinho, e também entre os atores que estrelaram os oito filmes da saga principal.
"Embora Jo seja a inquestionável responsável pelo rumo que minha vida tomou (...), me sinto obrigado a dizer algo neste momento", declarou Daniel Radcliffe em carta aberta publicada em no Trevor Project em 2020. "Mulheres trans são mulheres. Qualquer declaração contrária apaga a identidade e a dignidade de pessoas transgênero, e vai contra todas as orientações dadas por profissionais de saúde e associações que têm mais experiência no assunto que Jo e eu."
O eterno intérprete de Harry Potter não foi o único a se posicionar contra as declarações de Rowling, e se afastar de qualquer coisa que envolva a saga devido à presença de Rowling. Ao longo dos anos, Rupert Grint, Emma Watson e outros atores da saga também se manifestaram em oposto às falas da autora. O Especial "De Volta a Hogwarts", lançado na plataforma de streaming Max (então HBO Max) em 1º de janeiro de 2022, só contou com o trio principal porque a escritora foi vetada das gravações e sequer mencionada.
Neste sentido, a simples ideia de a Warner Bros. Discovery conseguir comprar os direitos de Harry Potter de J.K. Rowling resolveria uma grande dor de cabeça do estúdio, pois abriria a possibilidade de figuras tão simbólicas quanto o trio principal voltarem a se envolver nas produções de alguma forma. Além disso, o estúdio teria a liberdade de criar novas histórias paralelas no mundo de Hogwarts.
Atualmente, imerso em dívidas e projetos que não tiveram o sucesso financeiro desejado, o estúdio tem em Harry Potter uma espécie de fonte inesgotável de sucesso. A recente reexibição de "O Prisioneiro de Azkaban" nos cinemas, que deu tão certo que será até repetida, fez mais bilheteria que o lançamento do aguardadíssimo e dispendioso "Furiosa", derivado de "Mad Max" com Anya Taylor-Joy. Por isso, a Warner precisa de histórias que chamem o público para ligar a TV ou ir aos cinemas. E rápido.
Sucesso de reexibições à parte, há de se considerar que a falta de novas histórias situadas no universo de Harry Potter também é um problema para a Warner. Embora o universo de HP seja rico e farto, o fato de estar sob o controle de Rowling, que não parece interessada em criar novidades, faz com que o estúdio precise esmiuçar histórias já contadas em busca de migalhas para transformar em filmes, séries e jogos.
A título de comparação, é o oposto do que acontece com As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin. Ainda que o 6º livro da saga principal já tenha virado lenda, o universo criado pelo autor é gigantesco e possui muitas histórias paralelas que podem ser adaptadas pela HBO.
De volta a Harry Potter, um exemplo da escassez é a franquia Animais Fantásticos. Derivada de um livro didático de Hogwarts, a saga estrelada por Eddie Redmayne foi uma expansão transformada para os cinemas a fim de contar a história do magizoologista Newt Scamander, passada muitos anos antes do nascimento de Harry. Em determinada ocasião, a Warner chegou a anunciar que faria uma série de cinco filmes com Newt, de tanto que acreditava em seu sucesso.
Com J.K. Rowling irredutível no papel de roteirista, uma vez que insiste em controlar a história, os filmes foram perdendo fôlego e público, com uma imensa parcela da crítica especializada indicando que o ritmo do roteiro era um grande problema. O resultado não foi outro senão um fracasso de bilheteria, também catapultado pelo problema que se tornou a existência de Johnny Depp no elenco. Após o terceiro filme, "Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore" (2022), não se falou mais de novas continuações.
Com tudo isso, a Warner ganharia com uma possível compra a liberdade para contratar novos roteiristas e escritores para trabalhar em histórias do Mundo Mágico de Harry Potter, a mesma coisa que a Disney tem feito, por exemplo, com Star Wars. Se o mundo realmente precisa passar mais décadas em escolas de bruxaria é pergunta para outra hora. Mas, financeiramente, a Warner teria muito a ganhar.