'Mãe' do terror, Sarah Paulson brigou com chuva e poeira em 'Prenda a Respiração': 'Piada cruel'

Atriz e produtora executiva conversa com o Terra sobre seu novo terror no Disney+ e abriu o jogo sobre sua relação com o gênero.

11 out 2024 - 05h00
(atualizado às 13h36)
Sarah Paulson em 'Prenda a Respiração'
Sarah Paulson em 'Prenda a Respiração'
Foto: Lewis Jacobs/Searchlight Pictures

O novo filme de terror estrelado por Sarah Paulson, "Prenda a Respiração", poderia vir com um aviso de gatilho para os brasileiros. Afinal, a premissa lembra muito a crise climática com a queda da qualidade do ar que afetou o Brasil no último mês, uma consequência da fumaça das queimadas desordenadas provocadas em várias regiões do país. Na trama fictícia, o vilão é uma "entidade" dolorosamente próxima ao que vivemos na realidade: a poeira. 

Na trama, ambientada na década de 1930 em Okhlahoma, nos EUA, Paulson vive Margaret, uma mãe em luto cujo único objetivo é manter suas filhas seguras. No entanto, seu instinto protetor a conduz por um caminho sombrio, onde um mal muito maior do que o esperado começa a surgir em meio às tempestades de poeira devastadoras. O filme escrito por Karrie Crouse e dirigido por ela com Will Joines tem inspiração em um fenômeno climático real da época da Grande Depressão, as tempestades de areia chamadas de "Dust Bowls", causadas por uma combinação de fatores naturais (como a seca) e humanos (como métodos de plantação que agrediam os terrenos de forma severa).

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Apesar de não ser a primeira incursão de Sarah Paulson pelo terror, a atriz que virou musa do gênero com ajuda das séries de Ryan Murphy tem no longa a primeira oportunidade de conciliar o papel de atriz com o de produtora executiva. Em entrevista ao Terra, ela conta que este foi um dos fatores que a interessou no longa, e também revela seus temores na indústria criativa em uma conversa franca sobre as possibilidades proporcionadas pelo cinema de horror --e como suas próprias vulnerabilidades a ajudaram a se estabelecer como atriz. 

Sarah está feliz com seu mais recente projeto, e conta com orgulho dos desafios que a fizeram se interessar pelo filme. "Cheguei ao projeto de forma bem tradicional. Minha agente me enviou o roteiro, que ela havia lido e achado que tinha algo a dizer e poderia ser uma boa oportunidade para mim. E eles estavam oferecendo a oportunidade de ser produtora executiva, o que eu ainda não havia feito em um filme. Era um pacote bem empolgante e uma personagem feminina complexa no centro da história."

Hoje aos 49 anos, Paulson começou a carreira em participações em séries de TV, com papéis em destaque em programas como "American Gothic" e "Jack & Jill". Aos poucos, foi ganhando destaque ao atuar em filmes como "Simples Como Amar", "Do que as Mulheres Gostam" e "Bastidores de Guerra". Apesar do currículo extenso, foi apenas depois das colaborações com Murphy, de "Nip/Tuck" a "American Horror Story", que ela alcançou o status que tem hoje entre os fãs e a mídia.

É por isso que a atriz hoje opta por personagens complexos e que instiguem o espectador. "Eu estava interessada na ideia de interpretar uma mulher que estava muito, muito focada em aparentar que as coisas estavam normais, e que isso era essencial para a sua sobrevivência", explica, sobre Margaret. "E eu também estava interessada em como nós veríamos o seu antagonismo se manifestar, física, emocional e mentalmente. Eu queria descobrir como eu iria encontrar isso. Nunca interpretei uma personagem que fosse tão rígida, começando em um lugar e terminando em outro tão diferente. Eu queria me desafiar a fazer isso soar real para mim e para o público."

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Já disponível no catálogo do Disney+, "Prenda a Respiração" é quase um estudo de personagem focado em Margaret, e ganha força justamente pelo comprometimento de Paulson com o papel. Gradualmente, a atmosfera claustrofóbica do filme vai afetando a mulher, enquanto o filme propõe uma reflexão sobre quem é o vilão da história. Neste sentido, a atriz não esconde que houve momentos difíceis para ela no set --e conhecer um pouco de suas táticas já explica por que ela é tão adorada pelos fãs. 

"O que foi difícil para mim foi me manter atenta aos momentos em que Margaret estava sonhando acordada ou quando ela estava em sua realidade. Então, eu tinha um grande calendário no meu quarto, que pegou uma parede inteira do meu trailer, em que todos os dias e todos os momentos estavam mapeados, para eu nunca esquecer quando eu estava em um episódio sonâmbulo, sonhando acordada, ou quando era a realidade. Nós filmamos fora de sequência, então isso foi um desafio muito grande. Foi difícil, mas foi divertido."

Sarah concorda que controlar tudo isso pode parecer exaustivo, mas também explica que esse cansaço acabou sendo benéfico: "Quanto mais cansada eu ficava, mais fácil era acessar o estado da personagem. Eu tentei usar a realidade da situação para me ajudar na criação."

Chuva, novos aprendizados e 'dois papéis ao mesmo tempo'

Diretor Will Joines, Sarah Paulson e roteirista e diretora Karrie Crouse, de 'Prenda a Respiração'
Foto: Todd Williamson/JanuaryImages

Saber quando a personagem estava "dormindo" ou "acordada" passa longe de ser o único desafio da produção. Além de ser protagonista, a função de produtora executiva foi igualmente exigente, e trouxe lá sua variedade de imprevistos nada agradáveis.

Um deles, por exemplo, foi a chuva --a última coisa de que um filme que se passa em um lugar extremamente seco precisa. 

"A gente acabou rodando o filme em Santa Fé, no Novo México, e não era para ser a temporada de chuvas, mas ficamos encharcados de chuva. E quando eu falo chuva eu quero dizer um dilúvio", recorda Paulson. "Filmamos em um espaço aberto e construímos uma casa nesse campo gigante, então [a equipe] precisou revirar toda a terra para criar aquela poeira ao redor do cenário. Tudo aquilo foi efeito prático e muito real. A chuva criou tanta lama que não conseguimos gravar."

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"Precisamos fechar tudo e esperar nos nossos trailer, porque tinha tempestade de raios. Estávamos fazendo o filme lidando com a mãe natureza de uma forma que parecia até mesmo uma piada cruel. Foi insano", desabafa. "Isso acabou sendo muito complicado porque, como produtora executiva e atriz, às vezes eu não usufruia dos direitos garantidos a mim pelo sindicato", confessa. 

"Se eu não tivesse assumindo as duas funções, poderia ter mais flexibilidade e dizer coisas como: 'não vou chegar cedo, estou cansada porque passamos o dia inteiro ontem andando e filmando até tarde'. Mas eu precisava virar a marcha e pensar no que era melhor para o filme, e não no que era melhor para mim."

Terror como válvula de escape

Sarah Paulson (interpretando a promotora Marcia Clark), Cuba Gooding Jr. (como O. J.) e John Travolta (na pele do advogado Robert Shapiro) em 'O Povo contra O. J. Simpson'
Foto: Reprodução

Nos últimos anos, a gama variada de personagens em que o público viu Sarah Paulson é um belo exemplo de sua versatilidade artística. Apesar do quão marcantes são os papéis cada vez mais excêntricos da incansável "American Horror Story", foi com a série-irmã, "American Crime Story", que ela deixou as melhores marcas. 

Para a audiência, a Marcia Clark da primeira temporada, "The People v. O.J. Simpson", é uma explosão de talento e complexidade. Para a atriz, a mais desafiadora foi Linda Tripp, de "Impeachment", a temporada que tratou sobre o escândalo de Bill Clinton. 

Sarah dá um sorriso instantâneo quando o nome de Murphy surge na conversa, um sinal de que a parceria entre os dois se transformou em uma amizade duradoura. O interesse pelo terror é algo que os dois compartilham, e a atriz acredita que o gênero é um dos mais poderosos do cinema hoje. 

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"Eu sinto que, trabalhando nesses espaços, precisamos interpretar alguém no momento mais intenso de sua vida, e isso nos permite chegar aos extremos. E eu amo atuar no mundo dos extremos porque isso nos dá muita liberdade, e não há reações exageradas demais, porque é você que determina o que alguém vai fazer ou como aquela pessoa vai reagir em uma circunstância extrema."

"Eu gosto da liberdade que isso proporciona. Sempre fui a mais dramática da minha família e a minha tendência é mesmo de ter reações exageradas. De alguma forma, acho que esse mundo acaba pegando esses elementos emprestados. Desafiador para a vida e bom para o trabalho."

Mesmo assim, engana-se quem acha que isso quer dizer que a atriz seja uma grande fã de assistir a filmes e séries de terror. "Eu tento assistir muito pouco porque sou como um gato assustado, mas a verdade é que, quando eu assisto, acabo pensando no operador de boom, ou no sangue falso que eu conheço o sabor. Pensar nessas coisas acaba me tirando um pouco da história, mas quando o filme é muito bom eu só consigo pensar no que eu estou assistindo. Tenho um respeito absoluto por grandes mestres como Alfred Hitchcock, William Friedkin e outros diretores que fizeram filmes de terror incríveis."

Com tantos papéis icônicos e prêmios na carreira, será que ainda há alguma coisa que Sarah Paulson jamais faria em um filme?

"Não faço nenhum filme que me peçam para usar trajes de banho", conta, determinada. "Não uso na vida real e não vou usar em nenhum personagem."

Fonte: Redação Entre Telas
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