'O Aprendiz': Filme de Donald Trump vai da tragédia à farsa com herói da Marvel irreconhecível

Filme com Sebastian Stan e Jeremy Strong mostra o lado que Trump não quer que eleitorado veja.

16 out 2024 - 05h00
Resumo
O filme 'O Aprendiz' retrata a relação entre Donald Trump e seu advogado Roy Cohn, mostrando as trocas de favores que ditam a luta de classes e mantêm magnatas no poder
Roy Cohn (Jeremy Strong) e Donald Trump (Sebastian Stan) em 'O Aprendiz'
Roy Cohn (Jeremy Strong) e Donald Trump (Sebastian Stan) em 'O Aprendiz'
Foto: Diamond Films/Divulgação

Em determinado momento de "O Aprendiz", a já polêmica biografia de Donald Trump que chega aos cinemas nesta quinta-feira (17), Sebastian Stan desaparece de cena. Se até certo ponto era possível vê-lo escondido sob a maquiagem e a caracterização do personagem, o ator vai sumindo aos poucos para dentro do papel, enquanto os traços físicos mais característicos de Trump como o vemos hoje se tornam mais evidentes e assustadores. 

A metamorfose física ser apresentada de forma gradual não é algo involuntário. Afinal, a criação de Donald Trump enquanto personalidade política e midiática é justamente o objeto de estudo da obra, que não por acaso leva o mesmo título do reality show apresentado pelo magnata ao longo de 14 temporadas. A diferença é que, desta vez, a dinâmica de criador e criatura está invertida: quem põe as cartas na mesa e estabelece o ritmo do jogo é Roy Cohn, advogado considerado "padrinho de Trump" e um homem vil, temido e praticamente imbatível nos tribunais. 

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O filme, então, se constrói a partir da relação entre Cohn e Trump, mostrando que, de fato, a história se repete ora como tragédia, ora como farsa. Os dois se conhecem frequentando o mesmo clube seleto e se aproximam quando Donald bajula o advogado o suficiente para conquistá-lo para defender seu pai, Fred, em uma causa já considerada perdida que envolvia discriminação racial. A insistência faz com que o pupilo ganhe a confiança de seu mestre, que vê nele o potencial para ser alguém grande e logo dedica a passar adiante seus ensinamentos --incluindo aí suas supostas "três regras" para vencer na vida.

Sebastian Stan como Donald Trump em 'O Aprendiz'
Foto: Diamond Films/Divulgação

É diante desta relação quase simbiótica entre Trump e Cohn (Jeremy Strong) que "O Aprendiz" usa essa que é talvez uma das figuras mais emblemáticas do capitalismo contemporâneo para colocar uma lente de aumento sobre as estruturas do sistema e as "trocas de favores" que ditam a luta de classes e mantêm no poder pessoas como Roy Cohn, Roger Ailes e Rupert Murdoch. É como se o filme fosse uma versão mais objetiva e menos complexa (e, talvez justamente por isso, consideravelmente mais ingênua) de "Succession"

Para deixar isso mais claro, o longa usa a construção do luxuoso Trump Tower, o arranha-céu de 202 metros e 58 andares localizado na 5ª Avenida em Manhattan, para ilustrar o cenário de discrepância em que o ex-presidente dos Estados Unidos ascendeu economicamente nas décadas de 1970 e 1980; diante de uma cidade falida e sem empregos, Trump conseguiu isenção fiscal para seu empreendimento egoico, cuja própria construção era rodeada de entraves judiciais e denúncias de ilegalidades trabalhistas; o status de visionário que geraria empregos e colocaria a cidade "de volta no eixo" foi o suficiente para dar ao personagem condição e reconhecimento para que ele continuasse expandindo seu império --mesmo que não tivesse necessariamente recursos para isso. 

Sebastian Stan e Maria Bakalova em 'O Aprendiz'
Foto: Diamond Films/Divulgação

Na exposição de contradições e factoides que se acumulam para formar uma imagem puramente midiática, "O Aprendiz" debocha de Trump sem piedade, mostrando que as visões de mundo definidoras de sua personalidade passam longe de ser algo tão inovador e único quanto ele tenta impor. Mesmo assim, o longa tem dificuldades para encontrar um tom uniforme entre a sátira e o conto de horror.

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Por vezes mais sutil e outras mais direto (como quando Ivana Trump, sua esposa, diz que ele está ficando laranja pouco antes de ser abusada sexualmente por ele, ou quanto o slogan 'Make America Great Again' é apresentado a ele por outra pessoa), o filme tem mais força e ritmo na primeira metade, nas cenas em que Jeremy Strong divide os holofotes com Sebastian Stan. No entanto, é na segunda parte que perde o tom ingênuo e tradicionalista de biografias do gênero, ficando mais ambicioso quando mostra que a criatura se sobressai ao criador e perde o medo (ou a noção) de explorar o ridículo.  

Herói Marvel faz Donald Trump violento no filme 'O Aprendiz'
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Fonte: Redação Entre Telas
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