Wagner Moura afirmou que o Brasil está "completamente polarizado", e que seu filme sobre o guerrilheiro de esquerda Carlos Marighella provavelmente será recebido com protestos quando estrear, no final deste ano, em um país, que segundo o ator, é governado por um presidente que defende a ditadura e tortura.
O Brasil "está completamente dividido, polarizado, de uma maneira muito estúpida", disse Moura nesta segunda-feira, em uma entrevista coletiva durante o festival internacional de cinema de Santiago, onde seu filme "Marighella" foi exibido pela primeira vez na América Latina. "Creio que haverá um cinturão de amor ao redor do filme por parte das pessoas que querem vê-lo agora, neste momento do país, mas a coisa está tão feia que é possível que haja gente nas salas gritando ou impedindo sua projeção", acrescentou.
Moura, que interpretou o narcotraficante colombiano Pablo Escobar na série "Narcos", da Netflix, debutou como diretor com o filme sobre a morte do político comunista Carlos Marighella, ocorrida em 1969, durante a ditadura militar (1964-85). O longa, protagonizado pelo músico Seu Jorge, estreou mundialmente no Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro.
Para Moura, é "muito emocionante" que a película seja apresentada à América Latina no Chile, "porque é um país que sabe muito bem o que é uma ditadura militar... Essas histórias precisam ser contadas, não podemos esquecê-las", insistiu Moura. "No Brasil, temos hoje um presidente que disse que a ditadura não existiu, que a ditadura foi boa, que a tortura é um método possível para se obter informação."
"Assim, contar essas histórias, para mim, é muito importante", acrescentou o ator, que também é conhecido por protagonizar a saga "Tropa de Elite", sobre a polícia do Rio de Janeiro. Moura disse que a produção estreará em 20 de novembro no Brasil, e que com todo o material do filme também vai preparar uma minissérie televisiva para a Rede Globo.