Na noite de 23 de março de 2003, a plateia de astros e estrelas ficou de pé para aplaudir a entrada de Olivia de Havilland no palco da 75ª cerimônia do Oscar. Apoiando-se no cenário, com visível temor de queda, a atriz surgiu elegante e emocionada. Estava com 86 anos.
A música escolhida para recebê-la não poderia ter sido outra: o trecho mais conhecido da trilha de E o Vento Levou. O papel mais famoso da atriz foi Melanie Hamilton, a sofrida aristocrata e melhor amiga de Scarlett O´Hara (Vivien Leigh), no clássico de 1939, recentemente 'cancelado' por movimentos antirracistas.
Aquela foi a última aparição ao vivo de Olivia de Havilland na maior premiação da Hollywood que ela ajudou a consolidar. Na madrugada deste domingo (26), a artista morreu aos 104 anos durante o sono, de causas naturais, em sua casa no elitista 16.º arrondissement de Paris. Ela havia se radicado na França na década de 1950 após se casar com o jornalista e escritor Pierre Galante (1909-1998), da respeitada revista Paris Match.
Olivia de Havilland era a última representante da era de ouro de Hollywood e a derradeira integrante do elenco de E o Vento Levou. A atriz venceu dois Oscars: o primeiro em 1947 por Só Resta uma Lágrima e o segundo, três anos depois, pela atuação em Tarde Demais.
A artista nascida em Tóquio, de pais ingleses, teve como única irmã e grande rival Joan Fontaine (1917-2013), vencedora do Oscar por Rebecca, em 1941. Agraciada com o título de 'dama' pela rainha Elizabeth, Olivia de Havilland recebeu também a medalha da Légion d'honneur, a mais alta honraria francesa.
Teve dois filhos: o matemático Benjamin Goodrich, que morreu aos 42 anos, em 1991, de Linfoma de Hodgkin, e Gisele Galante, de 63 anos, que se dedicou a cuidar da mãe centenária e da administração do legado da última grande dama do cinema americano.
Será lembrada pelo talento versátil (começou a carreira como comediante e depois se consagrou no drama), o carisma e a discrição. Com ela, morre o aspecto glamouroso da velha Hollywood, quando as estrelas das telonas eram tratadas como semideuses. Olivia de Havilland sai de cena com seu lugar garantido entre os maiores nomes da sétima arte.