Quem é a atriz que adotou as sextas como dia para ser presa

Dona de uma carreira impecável, ela conquistou dois prêmios Oscars enquanto protestava contra a Guerra do Vietnã; veja mais na biografia feita pelo 'Estado'

8 nov 2019 - 09h10
(atualizado às 11h05)

Como hoje é sexta-feira, pode-se imaginar o que, desde cedo, está se passando na capital dos Estados Unidos. Uma senhora prepara-se para ser presa em algum momento do dia, alguém da guarnição prepara-se para prendê-la. A dama é uma famosa estrela de cinema e TV, Jane Fonda, que resolveu seguir o exemplo de uma garota sueca - Greta Thunberg - e instituiu as sextas-feiras como dia para tentar salvar o planeta.

Vestida com um casaco vermelho cintilante, ela tem protestado em frente ao Capitólio. Tem ido com amigos - Catherine Keener, Rosanna Arquette, Ted Danson -, ocupando as escadarias com chamamentos sobre a urgência da crise ambiental, que o presidente Donald Trump e seus epígonos ao redor do mundo insistem em minimizar.

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Confiscam-lhe o celular, ela vai presa, batem a identidade. Terminam por libertá-la. Na semana que vem tem mais. Já foram quatro sextas-feiras, essa será a quinta e Jane, de 81 anos - nasceu em 1937 -, pretende continuar sendo presa até meados de janeiro, quando recomeça a produção da que está sendo anunciada como última temporada de Grace & Frankie, sua série (com Lily Tomlin) da Netflix. Para ela, a militância ecológica talvez seja uma novidade, mas não propriamente a militância. Nos anos 1960/70, Jane participou de manifestações nos campi das universidades norte-americanas. Com o então companheiro, Tom Hayden, foi ativista contra a Guerra do Vietnã. Chegou a ir a Hanói, via Paris, onde viveu com outro marido - o cineasta Roger Vadim -, para se solidarizar com os norte-vietnamitas, que sofriam ataques de napalm. Era chamada, pelo establishment militar, de Hanói Jane.

Filha de Henry Fonda, um astro que pertencia à aristocracia de Hollywood, a mãe era uma socialite de Nova York. Não admira que tenha sido batizada como Lady Jayne. A mãe suicidou-se, e ela e o irmão, Peter Fonda - que morreu este ano -, foram enviados para internatos. O pai seguiu a rotina de casamentos e divórcios - só muitos anos mais tarde, quando Henry já estava no fim, Jane acertou os ponteiros com ele. Decidida a ser atriz, iniciou a carreira em casa - Hollywood -, mas foi para a França e se ligou a Vadim. Ele, que já iniciara o mito de Brigitte Bardot em E Deus Criou a Mulher, fez dela um mito sexual em Barbarella. Alternando Europa e EUA, Jane ganhou o primeiro Oscar - em 1972, por Klute, o Passado Condena, de Alan J. Pakula - e filmou com Jean-Luc Godard (e Yves Montand), Tout Va Bien, que foi seguido por Letter to Jane. Foi às ruas com os estudantes, apanhou da polícia protestando contra a guerra, foi chamada de antipatriótica por veteranos.

Jane Fonda virou um símbolo sexual ao interpretar uma viajante do espaço em 'Barbarella', filme de Roger Vadim lançado em 1968
Jane Fonda virou um símbolo sexual ao interpretar uma viajante do espaço em 'Barbarella', filme de Roger Vadim lançado em 1968
Foto: IMDB/ Divulgação / Estadão Conteúdo

Tudo isso faz parte de sua biografia. Ganhou outro Oscar de melhor atriz - em 1979, por Amargo Regresso, de Hal Ashby, justamente sobre a dificuldade de adaptação de veteranos da guerra. Casou-se com Ted Turner, virou garota propaganda dos benefícios das academias na busca da eterna juventude. Essa fase passou, mas agora uma outra Jane - outra? A mesma! - está de volta às ruas, e aos protestos. A causa ambiental, o aquecimento global. A série vai bem, obrigado. Grace & Frankie aborda com humor temas importantes de gênero. Como hoje é sexta, vale repetir, é dia de Jane Fonda ser presa. O tempo passa e ela não desiste do engajamento. Jane, em Hollywood, foi sempre assim. Não uma diva, uma esfinge inatingível. Uma mulher do seu tempo.

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