O brasileiro vai se habituar a acompanhar uma novela no streaming?
A dúvida foi dissipada com o sucesso de ‘Verdades Secretas 2’, disponibilizada no Globoplay em 2021.
O consumo dos 50 capítulos gerou recorde de visualizações na plataforma e provou o interesse pela teledramaturgia mais curta.
De olho nessa tendência irreversível de transição de público da TV para o streaming, a Globo lança ‘Todas as Flores’, que terá 85 capítulos divididos em duas temporadas.
Há enorme expectativa já que a produção se assemelha a uma novela convencional, enquanto ‘VS 2’ tinha mais elementos de série.
Regina Casé promete ser o grande destaque da trama escrita por João Emanuel Carneiro.
Aos 68 anos, a atriz festeja ineditismos: sua primeira vilã, a primeira personagem rica e loira pela primeira vez.
Zoé pode ser definida como uma golpista que subiu na vida. Na juventude, abandonou uma filha ao saber que era deficiente visual.
Na atualidade, vai atrás da moça para que seja doadora de medula à sua outra filha, que herdou seu mau-caratismo.
Quando a jovem boazinha se torna um estorvo para o plano de ganhar uma fortuna, a víbora cogita cometer filicídio.
Rimos com Casé em papéis hilários, como a louca por fama Tina Pepper de ‘Cambalacho’ (1986) e as mulheres surtadas vividas no humorístico TV Pirata (1988-1990).
Ficamos comovidos ao vê-la na pele de matriarcas sofridas, a exemplo da Rosalva de ‘As Filhas da Mãe’ (2001) e de dona Lurdes em ‘Amor de Mãe’ (2019-2021).
Referência de bom humor diante das câmeras, Regina encara o desafio de fazer o noveleiro odiá-la. Precisa superar a imagem de mulher alegre, altruísta e agregadora.
Estará sob a sombra de ícones da vilania na TV, como Odete Roitman (‘Vale Tudo’, 1988), Nazaré Tedesco (‘Senhora do Destino’, 2004), Flora (‘A Favorita’, 2008) e Carminha (‘Avenida Brasil’, 2012).
As duas últimas foram criadas pelo mesmo autor de ‘Todas as Flores’.
Faz tempo que o público prefere torcer pelas malvadas espertas ao invés de apoiar as mocinhas monótonas. Aliás, tal preferência revela muito a respeito da ética flexível do brasileiro.
Pelas cenas vistas, Zoé possui deliciosa dissimulação, humor cáustico e o esnobismo típico dos novos ricos que tentam desesperadamente apagar o DNA de pobre.
Como resistir a uma personagem tão em sintonia com o Brasil de hoje?