Crítica One Piece | Primeira temporada entrega adaptação fiel, mas sem novidades

One Piece, a adaptação do mangá mais popular do mundo, entrega aquilo que os fãs queriam, seguindo todos os passos do anime

31 ago 2023 - 20h15
(atualizado em 1/9/2023 às 11h51)

A arte de adaptar um mangá ou anime para uma versão live-action não deveria ser mais complicado que, digamos, adaptar uma história em quadrinhos da Marvel ou DC. No fundo, são quadrinhos que contam histórias fantásticas, com personagens de variados tipos e momentos emocionantes que, em uma versão com atores, têm potencial para serem épicos.

Foto: Reprodução/Netflix / Canaltech

Mesmo assim, parece que sempre existiu uma barreira que impedia que essas histórias fossem bem adaptadas para o cinema ou TV. Existem diversas adaptações produzidas no Japão que conseguem traduzir bem o espírito dos animes, mas quando chega em Hollywood, são raras as vezes em que as coisas não desandam.

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Recentemente, o mundo pode se decepcionar com a Netflix, que tentou levar para as telas talvez o anime mais fácil de se adaptar em Hollywood, Cowboy Bebop, mas entregou algo que não agradou fãs ou pessoas que gostariam de uma boa série para assistir. É nesse cenário nebuloso que One Piece, talvez a maior aposta do streaming em 2023, estreia sua primeira temporada.

Após oito episódios, é possível dizer que a Netflix acertou a mão com a história do Bando do Chapéu de Palha pelo simples fato de entender o que funciona no mangá e anime, nem que isso signifique não mudar praticamente nada dele. Por bem ou por mal.

O Rei dos Piratas

A execução de Gold Roger em One Piece (Imagem: Reprodução/Netflix)
Foto: Canaltech

One Piece segue à risca a história criada por Eiichiro Oda, mostrando a execução do Rei dos Piratas Gold Roger. A série começa mostrando o pirata prestes a morrer e contando, para várias figuras que podem ser reconhecidas pelos fãs do anime, sobre seu tesouro e como ele pode trazer fama, dinheiro e glória para quem encontrá-lo.

O início de uma nova era de pirataria revela como o mundo foi tomado por corsários tentando desbravar a rota do Grand Line e encontrar o tesouro, chamado de One Piece. A maneira como isso é mostrada na série é rápida, mas o suficiente para que o espectador entenda a sua importância.

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Inclusive, sobre essa rapidez, isso é algo constante ao longo da temporada, que condensa uma saga inteira em oito episódios. Apesar de mostrar tudo de maneira eficiente e bastante enxuta, em alguns momentos, as coisas pareciam precisar de mais tempo para respirar e ter mais impacto, mas os episódios não param.

Os episódios não parecem longos devido à enxurrada de coisas que acontecem neles (Imagem: Reprodução/Netflix)
Foto: Canaltech

Os episódios têm em média 58 minutos de duração (com créditos), o que já daria um bom tempo para desenvolver a trama e personagens, mas é impressionante como os responsáveis pela adaptação conseguiram enfiar bastante coisas neles

Algo que pode agradar, ou não, os fãs é o fato que tudo está bastante fiel ao mangá e anime. Isso não deveria ser um problema e, analisando friamente, não chega a diminuir a qualidade da série, mas fica uma impressão de que a adaptação é basicamente alguém que conhece One Piece e tenta contar para você o que aconteceu na primeira saga. Essa pessoa não se prende em alguns detalhes, focando nas coisas que realmente importam e em grandes momentos.

Acho que a melhor maneira de falar sobre essa primeira temporada de One Piece da Netflix é que ele consegue navegar bem nos grandes momentos da história, sem inventar muita moda. Isso é bom, mas faltou um pouco refinar algumas pontas que ficam estranhas em um universo live-action.

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Grande produção ou série com baixa renda?

O Going Merry ficou legal mesmo (Imagem: Reprodução/Netflix)
Foto: Canaltech

One Piece custou muito dinheiro para ser produzido. Rumores indicam que a primeira temporada custou mais de US$ 140 milhões, algo absurdo considerando os oito episódios. Em alguns momentos, é possível ver onde esse dinheiro foi gasto, mas em outros, fica uma impressão de que as coisas são um pouco pobres.

Cenários foram feitos claramente com a ideia de reproduzir locais e itens vistos no anime e mangá, o que é louvável e, confesso, me agradou. Porém, muito do que está nas páginas da Shonen Jump ou nos episódios do anime é tão estilizado que em um universo live action, me lembrou, salvo as devidas proporções, um seriado tipo Chaves ou Chapolim Colorado.

Não chega a ser muito ruim, mas dá uma impressão de que as coisas foram feitas com o orçamento de uma caixa de maria mole e esperança de que tudo vai dar certo na vida. Chega a ser bonito se pararmos para pensar.

O glorioso pirata que estica (Imagem: Reprodução/Netflix)
Foto: Canaltech

Os efeitos especiais são aceitáveis, considerando ser uma produção para streaming, e confesso que a estranheza com Luffy se esticando some rapidamente, principalmente por conta do ator Iñaki Godoy (Imperfeitos).

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Além do jeito bastante fiel aos movimentos que o pirata tem no anime, o físico do ator é longilíneo, então mesmo quando ele não está se esticando, ainda parece que está. É uma sensação esquisita, mas que trabalha a favor da atuação.

Um elenco realmente primoroso

O Bando do Chapéu de Palha (Imagem: Reprodução/Netflix)
Foto: Canaltech

Tudo o que já a falei a favor da adaptação de One Piece até agora poderia cair por terra se as atuações do seu elenco não fossem boas. Muito do que faz a série funcionar está nos seus atores e atrizes, principalmente os cinco que formam o Bando dos Chapéu de Palha.

Godoy como Luffy mostra que todos os trailers estavam certos ao mostrar que ele é a escolha ideal para interpretar Monkey D. Luffy. O ator passa a aura jovial e completamente "bobo alegre" do personagem, ainda que consiga entregar uma boa atuação em momentos mais sérios.

Mackenyu (Os Cavaleiros do Zodíaco - Saint Seiya: O Começo) é excelente como Roronoa Zoro, entregando algumas das melhores lutas da temporada e fazendo com que não pareça completamente ridículo alguém lutar segurando uma espada com os dentes.

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Jacob Romero (Grey's Anatomy) entrega um Usopp divertido e sonhador, enquanto Taz Skylar (O Projeto Lazarus) interpreta Sanji com certo charme cativante.

Emily Rudd é um dos destaques de One Piece (Imagem: Reprodução/Netflix)
Foto: Canaltech

Porém, a melhor atuação do grupo fica com a atriz Emily Rudd (Rua do Medo 2) no papel de Nami. Desde sua primeira cena, ela entrega uma Nami capaz de apresentar toda uma gama de emoções, seja ajudando novos amigos ou traindo-os por algo importante para o seu coração.

Em vários momentos, Rudd e Godoy fazem One Piece da Netflix algo tão bom quanto o mangá que serviu como base, sem parecer uma simples imitação do anime de sucesso.

Um tesouro da Netflix

One Piece parece ser o grande acerto da Netflix quando se fala em adaptar animes para o mundo live action. Ainda que, em alguns momentos, ele cause certa estranheza, a adaptação funciona muito bem para contar a história criada por Eiichiro Oda, com cenas emocionantes, devendo agradar tanto a fãs quanto aqueles que finalmente vão olhar para One Piece sem pensar em ter que assistir mais de mil episódios.

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Todo herói tem sua origem (Imagem: Reprodução/Netflix)
Foto: Canaltech

Existe espaço para melhorias, mas somente o fato de uma adaptação do Bando dos Chapéu de Palha funcionar direito já é digno de nota. Tomara que a Netflix continue assim e tenhamos mais aventuras do pirata que estica interpretado pelo Iñaki Godoy.

A primeira temporada de One Piece está disponível na íntegra na Netflix.

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