Quem matou Grégory? Série relata o crime que virou uma novela sem final

Caso em destaque na Netflix mostra como a imprensa pode induzir a erros terríveis e usar uma tragédia em benefício próprio

30 nov 2022 - 10h28
(atualizado às 18h03)

Na tarde de 16 de outubro de 1984, Grégory Villemin, de 4 anos, brincava diante de sua casa, em uma pacata cidade no leste da França, quando desapareceu.

Poucas horas depois, seu corpo foi encontrado em um rio da região. Estava com pés e braços amarrados por uma corda, mas não havia sinais de violência física.

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Começava ali uma investigação caótica e uma cobertura sensacionalista da maior parte da imprensa. 

A série documental 'Grégory', na Netflix, mostra em detalhes a sucessão de equívocos que resultou em outro assassinato, uma prisão injusta, um suicídio e a destruição de biografias.

Por trás da morte do garoto está o 'Corvo', apelido dado à pessoa anônima responsável por cartas e telefonemas com insultos e ameaças a Jean-Marie e Christine, os pais da pequena vítima.

Tudo leva a crer que as conquistas materiais do casal despertaram inveja doentia em um parente ou alguém próximo.

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Matar o menino foi a maneira que o desconhecido encontrou para acabar com a felicidade da jovem família.

Grégory Villemin é uma das vítimas mais famosas da crônica policial francesa
Grégory Villemin é uma das vítimas mais famosas da crônica policial francesa
Foto: Reprodução

Um aspecto relevante explorado na série é a influência do Quarto Poder, a mídia, sobre o Poder Judiciário.

O primeiro magistrado à frente da investigação foi picado pela mosca da fama, se deixou manipular por jornalistas velhacos e perdeu o contato com a realidade.

Como o caso vendia cada vez mais jornais e revistas, a imprensa inventava teorias e lançava acusações infundadas contra pessoas.

Na ânsia por fotos, vídeos e declarações, alguns repórteres sem ética ignoravam o sofrimento dos familiares de Grégory e de quem era colocado levianamente na mira da desconfiança.

Necessário parêntese: o sensacionalismo na imprensa, no passado e hoje em dia, só existe porque há consumidores fiéis.

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O financiamento é feito por quem compra exemplares e dá audiência na TV e na internet aos veículos que vivem de explorar a desgraça alheia.

Christine e Jean-Marie: a dor da perda do filho amplificada pela suspeita de envolvimento no crime
Foto: Reproduções

A série tem ótimo roteiro a partir de áudios gravados por um jornalista veterano que cobriu o caso. Há entrevistas com repórteres, advogados e investigadores do crime.

Quase 40 anos depois, alguns deles sinalizam arrependimento por sua conduta na época e lançam um olhar triste sobre o desfecho do caso.

Aliás, fim sem final. Um acusado pela morte de Grégory foi morto pelo pai do garoto, a mãe chegou a ser presa sob acusação de assassinar o próprio filho e outros membros dos Villemin ficaram sob suspeita.

Mas o homicídio continua sem solução. Tentativas recentes de solucioná-lo usando a tecnologia do DNA falharam.

De tempos em tempos surgem novas especulações. A morte de Grégory Villemin segue sendo um mistério.

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O repórter e fotógrafo Jean Ker, da revista 'Paris Match', contribuiu com seu rico acervo sobre a tragédia
Foto: Reprodução
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