'Wicked' é espetáculo para fãs que põe Cynthia Erivo e Ariana Grande entre os gigantes; crítica

Adaptação dirigida por Jon M. Chu faz os 20 anos de espera valerem a pena; leia a crítica

19 nov 2024 - 16h05
(atualizado às 16h35)
Resumo
Ressurgência de adaptações de musicais dos palcos para as telas com 'Wicked' destacando-se como representante de sucesso.
Cynthia Erivo e Ariana Grande estrelam 'Wicked', adaptação do musical fenômeno da Broadaway
Cynthia Erivo e Ariana Grande estrelam 'Wicked', adaptação do musical fenômeno da Broadaway
Foto: IMDb/Reprodução

Têm sido anos intensos para fãs de cinema e teatro musical. Da tragédia anunciada que foi "Cats" em 2019 (um filme que muitos de nós gostaríamos de esquecer) à lenta, mas constante inserção de gravações profissionais de teatro (os proshots) às plataformas de streaming, vivemos um período de ressurgência de adaptações de musicais dos palcos para as telas. Se a moda é consequência de uma fase do audiovisual em que faltam ideias novas e tudo é sequência ou refilmagem, sai feliz quem consegue separar o joio do trigo. Afinal, como em qualquer safra, há resultados bons, medianos e ruins. Felizmente, o mais recente representante desta lista encaixa-se na primeira leva.

Quem vem de outros carnavais já sabe que não é de hoje que se fala em um filme de "Wicked". O musical que encanta os palcos da Broadway desde 2003, e é sucesso desde então, já foi adaptado para dezenas de países e a promessa de um dia vê-lo nos cinemas por pouco não virou lenda. Mas, em um momento em que tantos filmes tentam esconder o fato de serem musicais, com medo de uma reação negativa de um público que jamais se interessaria por aquelas histórias a princípio, é um alento ver um longa que não apenas ostenta com orgulho o título de musical mas também aproveita todas as possibilidades da telona ao máximo, para criar um espetáculo único que capture a magia daquela história.

Publicidade

O mérito desta pose irredutível está na excelente escolha de Jon M. Chu para assumir as rédeas de "Wicked". O diretor, tão versátil quanto a missão exige, já vinha flertando com filmes musicais desde "Ela Dança, Eu Danço 2" (2008), mas se estabeleceu como uma voz a ser ouvida quando engatou o sucesso da comédia romântica "Podres de Ricos" (2018) com "Em um Bairro de Nova York" (2021), adaptação do musical de estreia de Lin-Manuel Miranda, "In the Heights".

Foi a destreza com que Chu mistura a graça, o romance e os elementos rítmicos em um ambiente urbano e incansavelmente agitado que deixou claro que o diretor teria algo de interessante a acrescentar à história de origem de Elphaba, a Bruxa Má do Oeste de "O Mundo Mágico de Oz"

Aclamado por agregar inclusão a grandes blockbusters enquanto quebra recordes de bilheteria no caminho, Chu promete repetir o feito no longa que chega aos cinemas nesta quinta-feira (21). Seu filme encanta com um visual esteticamente deslumbrante, com cenários quase que inteiramente construídos de verdade, e entrega Ariana Grande e Cynthia Erivo ao panteão de parcerias inesquecíveis da sétima arte.

Aqui, o diretor não apenas formata o musical dos palcos para uma versão fechada pelos limites da câmera. Chu adiciona seus próprios floreios ao material de origem, potencializando ainda mais as cenas musicais e utilizando as possibilidades do cinema (os planos fechados, longos e travellings) para dar mais intensidade aos mesmos. 

Publicidade

Inspirado no livro "Maligna", de Gregory Maguire, e no musical fenômeno com libreto de Winnie Holzman, "Wicked" conta uma história que precede aquela abordada em "O Mágico de Oz" (1939), que começa quando Dorothy e Totó são levados para um mundo mágico com uma estrada de tijolos amarelos. Aqui, ouvimos o outro lado dessa trama, que começa quando uma jovem, desajustada (e verde) Elphaba Thropp é forçada a dividir um quarto com a delicada e popular Galinda na Universidade Shiz.

O jogo de opostos protagonizado por Elphaba e Glinda é, sim, a força-motriz desta história, mas também é nada mais do que uma cortina que camufla algo maior escondido nas entranhas desta saga de fantasia. E entender e dar o foco necessário a isso é o grande acerto e o maior diferencial da versão para as telas. 

Cynthia Erivo e Ariana Grande estrelam 'Wicked', adaptação do musical fenômeno da Broadaway
Foto: IMDb/Reprodução

Disfarçada sob a pele verde de Elphaba e o preconceito que a mesma sofre por representar o estranho e o desconhecido, está uma história de resistência e uma fábula antifascista. Enquanto a produção para os palcos dá mais foco para a amizade entre as duas protagonistas e a história de amor envolvendo Fiyero (Jonathan Bailey), deixando a mensagem potente mais no subtexto, o filme abre mais espaço para mostrar que aquele é um conto sobre como fascismo, populismo e propaganda trabalham para isolar e vilanizar aqueles que pensam diferente do que prega o sistema. 

É por isso que faz sentido dividir a história em duas, já que o filme que chega esta semana às telonas é apenas a primeira parte desta trama de amor, ódio e a consequência das mentiras. A informação pode assustar quem olhar para o tempo de duração (são extensas 2h40), mas a proposta de partir "Wicked" ao meio se justifica quando observamos a intensidade com que o longa se dedica a apresentar cada personagem que terá um peso maior na segunda parte. 

Publicidade

Isso não quer dizer, é claro, que tais escolhas não tenham suas consequências. As 2h40 às vezes testam a boa-vontade do espectador e vão além do necessário, sobretudo porque há um problema de ritmo em parte das cenas na Shiz.

Embora haja um preciosismo na manutenção destes momentos, que já denuncia o fato de o filme ser pensado para quem ama "Wicked" e espera por este filme há quase duas décadas, esse tempo maior dedicado a desenvolver os personagens salienta a urgência dos temas que estão sendo debatidos. O filme desenvolve com mais clareza, por exemplo, os dilemas éticos de Elphaba, a presença de Boq (Ethan Slater) e as ideias do Mágico (Jeff Goldblum). E, em um filme que demanda tamanha suspensão da realidade, este cuidado faz total diferença. 

Cynthia Erivo e Ariana Grande estrelam 'Wicked', adaptação do musical fenômeno da Broadaway
Foto: IMDb/Reprodução

Afinal, um dos motores da trama está na luta do professor Dillamond (dublado por Peter Dinklage) e dos demais animais, que estão sendo isolados do convívio humano e confiados a gaiolas, por reconhecimento e para manterem o lugar que ocupam na sociedade. Eles encontram em Elphaba uma improvável aliada, e é esta luta para desfazer injustiças que desafia tudo o que os fãs entendem de "O Mundo Mágico de Oz". Entre uma pele verde, um mundo de magia e macacos voadores, "Wicked" faz um alerta pertinente e atual contra a lógica da doutrinação do pensamento, sem perder a emoção e a potência dos hits musicais que o colocaram na eternidade. 

Por fim, é a parceria de Ariana Grande e Cynthia Erivo em cena que coroa tudo isso e faz com que a mensagem funcione. As duas atrizes recriam a grandiosidade amada no musical da Broadway ao mesmo tempo em que pegam essas personagens para si. Ariana parece ter nascido para interpretar Glinda, e Erivo abraça as delicadezas de Elphaba com tamanha força que faz sua trajetória ser ainda mais impactante. Com tudo isso, é difícil não concluir que "Wicked" tem tudo o que conta para ser popular. 

Publicidade
Fonte: Redação Entre Telas
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se