Salve, salve!!! Salve-se quem puder.
Estive em Lipica na Eslovênia, berço da famosa raça de cavalos Lipizzaner. O hotel Maestoso fica no haras fundado em 1580 pelo então arquiduque dos Habsburgo, Charles II, comandante do interior da Áustria.
Este pequeno país ainda pouco explorado pela horda de turistas mainstream fazia parte da antiga Iugoslávia fica na fronteira com a Itália, Áustria, Croácia e Hungria mais ao Leste.
A trilha sonora não poderia ser sobre outro assunto: música eletrônica da Eslovênia. Essa playlist é bem suave e duvido que você conheça algum artista. Errorist, Borka, Kleemar, Anderma, Timo Chinala e Smrgoda são alguns exemplos que em breve vão entrar pelos seus tímpanos se alojando para todo sempre no seu córtex auditivo.
Eslovênia, uma jóia desconhecida na Europa
A forma como a Eslovênia se tornou independente fez toda a diferença. Se compararmos com a Croácia, Sérvia e Bósnia, este pequeno país teve uma saída muito mais pacífica da antiga Iugoslávia. Houve uma guerra de apenas 10 dias pela sua independência, quando quase nada foi destruído e com poucas vítimas.
O conflito se resolveu rápido porque os recursos e as dificuldades necessários para defender a Eslovênia eram grandes demais para o governo central da Iugoslávia, que já estava sobrecarregado com os impulsos pela independência de outros Estados. Logo perceberam que lutar pra manter a Eslovênia não valeria a pena.
A Croácia, que também lutava por sua independência, está geograficamente entre a Eslovênia e o governo iugoslavo situado na atual Sérvia. O único caminho até lá passava pela Croácia. Além disso, as bases iugoslavas na pequena jóia eslovena não estavam dispostas a lutar contra seu próprio povo, e um grande número do exército local desertou. Isso tornou a Eslovênia virtualmente irrecuperável para o governo iugoslavo. Eles estavam dispostos a perder a região evitando lutar em muitas frentes e correndo o risco de perder rapidamente os outros Estados, maiores e mais importantes.
Croácia e Bósnia não tiveram tanta sorte já que compartilhavam fronteiras com a Sérvia. Travaram guerras longas e devastadoras que destruíram grande parte de suas economias, geraram perdas humanas e causaram pobreza. Só na Bósnia estima-se que morreram mais de cem mil pessoas. Croatas e bósnios lutaram contra o governo iugoslavo, então situado na Sérvia. O conflito rapidamente se transformou em disputas territoriais baseadas em divisões étnicas e, como muitas das nações têm fronteiras etnicamente mistas, as batalhas foram sangrentas.
Enquanto as outras nações se destruíram, a Eslovênia teve a chance de se estabelecer rápida e efetivamente como uma nação. Eles já eram mais ricos do que as outras, mas agora tinham também o benefício de uma vantagem e a sorte do destino por não terem travado uma guerra devastadora.
Outra vantagem é a posição geográfica. Como primeira nação ex-iugoslava da União Européia, tornou-se um importante parceiro comercial. O porto de Koper cresceu após a independência e gerou muitas divisas ao país. Da mesma forma, a Eslovênia que estava na fronteira com a UE, se beneficiou mais uma vez pois a maior parte do comércio com destino aos Bálcãs passava pelo país.
Resumo da ópera: a Eslovênia teve uma vantagem enorme e, combinado com riqueza histórica, uma mentalidade mais voltada para o trabalho e sendo um elo direto entre os Bálcãs e a UE, o país gerou um nível de riqueza notavelmente mais alto do que todas as outras nações da ex-Iugoslávia.
Hoje em dia a Eslovênia é um país de alta renda, com um dos melhores padrões de vida do planeta. Os estudos a colocam como o melhor lugar (junto com a Noruega) para se criar uma criança. Situada entre as 10 nações com maior igualdade de gênero no planeta, 12ª no ranking mundial de IDH (desigualdade de renda ajustada) e número 1 no índice de Gini, usado para medir o nível de desigualdades em uma nação.
A capital Ljubljana está consistentemente classificada entre as capitais mais verdes do mundo.
Os Cavalos Lipizzaner são uma obra prima da Natureza
Todos os belíssimos cavalos brancos da Escola Espanhola de Equitação em Viena são da raça Lipizzaner. Uma mistura de raças da Andaluzia na Espanha, de regiões da Itália e garanhões árabes deu origem ao mais belo cavalo do mundo. São adestrados e treinam a vida toda pra dar espetáculos de dança e acrobacias.
O cavalo branco é um símbolo vivo representando a espiritualidade e o excelente poder animal do próprio homem. O Lipizzaner está associado ao desenvolvimento humano, da natureza animal ao conhecimento divino, do negro ao imaculado branco.
Os cavalos nascem com os pelos negros que vão ficando brancos a medida em que crescem. É um simbolismo representando a própria evolução do homem, de sua natureza animal até o domínio das próprias capacidades e controle das emoções. Os antigos acreditavam que o cavalo branco era o próprio Deus.
É quase impossível descrever os Lipizzaner. Quando surgem, encantam com sua beleza, inteligência e liberdade, como se fossem mesmo seres divinos. Sem falar na força física e habilidades para executar as manobras e saltos.
Este cavalo carrega um significado mais profundo ajudando o homem a se desenvolver e adquirir conhecimento de si mesmo, descobrindo a bondade e a beleza de sua espiritualidade.
Uma obra de arte viva.
Pra ver e ler
FILME: Ben Hur (1959) – William Wyler. Pra que tanta carnificina?
O clássico épico com Charlton Heston bateu vários recordes, mas entre eles um bastante amargo.
Após seu lançamento, o filme foi um grande sucesso de bilheteria ganhando 11 Oscars, e ainda permanece como sendo um dos maiores filmes da história. Mas, de acordo com historiadores do cinema, cerca de 100 cavalos foram mortos durante a produção do icônico filme. Um recorde de matança de animais durante as filmagens.
O diretor assistente do filme teria supostamente ordenado que cavalos fossem mortos "se mancassem", sem procurar atendimento veterinário.
Ainda me lembro daquela cena dentro do barco. Escravos remando cada vez mais rápido até a exaustão obedecendo o aumento do ritmo dos tambores ordenado pelo sádico capataz responsável pelos remadores.
E a corrida de bigas no Circus Maximus em Roma?! As sabotagens pra tirar as bigas adversárias da disputa em lutas sangrentas e o realismo das cenas, todas filmadas sem efeitos especiais usando centenas de figurantes e cavalos reais.
Um clássico.
LIVRO: Napoleão: uma biografia literária (2004), Alexandre Dumas
A história de “Os Três Mosqueteiros” foi escrita pelo francês Alexandre Dumas em 1844. “O Conde de Monte Cristo” também é obra dele.
O próprio Dumas era filho de um general de Napoleão Bonaparte, e escreveu a biografia do célebre imperador francês sem aquela babação de ovo típica dos biógrafos.
Alexandre diz que viu Napoleão apenas duas vezes na vida. A narrativa se concentra na descrição das batalhas militares, descrevendo os galopes em seu icônico cavalo branco (seria um Lipizzaner?!), gritando aos seus soldados e à música.
É uma biografia romanceada, onde alguns fatos, ou versões dos fatos, às vezes são mais importantes do que a própria verdade. Napoleão foi ousado, único e mudou o mundo com implicações e desdobramentos até mesmo no Brasil quando Junot invadiu Portugal, fazendo com que a corte de Dom João XI aportasse no Rio de Janeiro.
Apesar de a França ter produzido vários grandes escritores, nenhum deles foi tão lido quanto Alexandre Dumas. Suas histórias foram traduzidas em quase 100 idiomas e inspiraram mais de 200 filmes.
Li o livro, presente da minha madrinha Inês. Muito bom e fácil de ler.
(*) Pedro Silva é engenheiro mecânico, PhD em Materiais, vive em Viena na Áustria, considera a Eslovênia uma jóia européia rara ainda a ser descoberta e escreve semanalmente a newsletter Alea Iacta Est.