“Vou me aposentar, vou pra Paris”, anunciou a cafetina Laureta em recente capítulo do principal folhetim da Globo.
Ninguém acredita que ela vá pendurar os scarpins de grife, é claro. Considerando-se dona da Bahia e rainha da sociedade soteropolitana; não vai abrir mão do prestígio conquistado junto a políticos, milionários e famosos.
Ex-garota de programa, a maquiavélica de Segundo Sol é hábil em mentir e manipular. Dona de humor sarcástico e ganância ilimitada, protagoniza alguns dos momentos mais divertidos da trama.
Várias de suas frases geraram memes hilários. Entre elas, “gente como a gente não se apaixona, fecha negócio”, “me filma e me posta” e “preciso garantir meu champanhe, cerveja é para os fracos”.
A construção da personagem segue uma receita já amplamente testada pelo autor João Emanuel Carneiro: inserir humor cáustico à vilania. O novelista fez isso em trabalhos anteriores. Quem não se lembra das alfinetadas de Ellen (Taís Araújo) de Cobras e Lagartos (2006) e das tiradas desconcertantes de Flora (Patrícia Pillar) em A Favorita (2008)?
Mas a melhor comparação para Laureta é com Carminha (2012). Assim como Odete Roitman (Beatriz Segall em Vale Tudo, 1988) e Nazaré Tedesco (Renata Sorrah em Senhora do Destino, 2004), a vilã memorável de Avenida Brasil não sai da memória do telespectador.
Adriana Esteves conseguiu se desvencilhar da armadilha de interpretar outra bandida extrovertida. Laureta é muito parecida com Carminha, porém possui personalidade própria. Poderiam ser irmãs gêmeas na disputa de quem é mais esperta e perigosa.
A atriz, com total domínio de cena, aproxima e distancia as duas personagens quando quer. Com inteligência dramatúrgica, ela faz o público às vezes se lembrar de Carminha sem se esquecer de que está diante de Laureta.
Esteves adiciona generosa dose de cinismo ao moldar suas expressões faciais. As dissimulações da alcoviteira dispensam palavras: olhares de soslaio e sorrisos zombeteiros transmitem a mensagem desejada.
O autodeboche é outra qualidade da personagem. Em uma cena, ela explica por que sua cúmplice Karola (Deborah Secco) deve confiar cegamente nela: “La garantía soy yo”. Mais uma vez, a vilã da novela diverte muito mais o público do que as mocinhas.
Contudo, Laureta não se resume a comédia e maldades. Há solidão e amargura. Apesar do discurso de autonomia sentimental e o desdém pelos homens, ela sonha com um amor verdadeiro.
No fundo, a imperatriz da luxúria é uma mulher como todas as outras.