Frustrado com a escolha do curso de Direito, Pedro Santos, de 23 anos, criou a página Depressão Universitária para zoar os perrengues de estudantes que ingressam na jornada acadêmica e acabam se decepcionando no meio do caminho. A ideia, posta em prática inicialmente no Facebook, em 2016, logo repercutiu e foi parar em outras redes sociais. Hoje, entre anônimos e famosos, o fundador acumula mais de 600 mil seguidores no Twitter, 530 mil no Instagram e 930 mil no Face.
A repercussão da página e o engajamento de famosos como a cantora Marília Mendonça, o influenciador Whindersson Nunes, a ‘BBB20’ Rafa Kalimann, a ex-panicat Nicole Bahls e a atriz Clarice Falcão, fizeram com que Depressão Universitária deixasse o status de hobby para trabalho na vida do estudante.
"Eu nunca investi dinheiro, mas já fiz parcerias legais com um banco e também com uma marca de telefonia. Dá para ter retorno das redes sociais, ter uma renda graças à internet. Como eu não trabalho e meus pais me dão um suporte, eu consigo tirar um dinheirinho, sim", explica o jovem, sem revelar, contudo, seu faturamento mensal na web.
Em 2018, o convite para participar da bancada de influenciadores do Teleton deu ao perfil administrado por Peu Santos um patamar ainda mais elevado, graças à visibilidade que conquistou com a atração. "Recebi o convite da produção pelo Instagram. Eles disseram que já me acompanhavam e que gostariam que eu fizesse parte da bancada de influenciadores naquele ano. Foi a melhor experiência da minha vida", relata o jovem mineiro.
A participação no programa beneficente do SBT dialogava exatamente com uma outra proposta da página, a de ajudar o outro. No início do ano em que integrou a bancada do Teleton, sua mãe havia sido diagnosticada com depressão e, posteriormente, com um quadro de esquizofrenia. Por causa disso, aproveitava sua influência para criar uma rede de apoio às pessoas que precisavam de mais cuidado com a saúde mental.
"Eu me senti impotente, sem conseguir fazer nada pela minha mãe. Depois que o diagnóstico tardio aconteceu, eu comecei a usar as redes para ajudar outras pessoas que estavam em estágio inicial dessas doenças. Eu descontava a minha frustração ajudando: fazia mutirão, procurava psicólogos, divulgava os serviços de algumas pessoas para esse pessoal se consultar de graça", relembra.
Conteúdo
Autor de 90% dos posts que faz na página, Peu explica que nem todos os conteúdos são voltados para o universo acadêmico, ainda que majoritariamente pensados para os usuários mais jovens. Para atingir seu público-alvo, há brincadeiras com assuntos variados e memes do momento. "A proposta é levar humor para as pessoas. Eu acho que os estudantes passam por muitas frustrações, ansiedade. A página foi criada para ser um refúgio para essas pessoas, um refúgio de memes e de humor".
Um detalhe: custe o que custar, há espaço para o posicionamento político – ainda que custe até um possível "cancelamento" no Twitter. "Entre perder seguidores e me posicionar eu prefiro me posicionar, ainda que eu vá ser xingado depois. Penso que é só uma opinião. Não entendo porque as pessoas se afetam tanto", diz ele, com a ênfase de que não tolera mensagens homofóbicas, racistas ou com qualquer outro teor preconceituoso.
E se tem alguém que é campeã de likes e que une quase todas as tribos da rede social é a rainha do rebolado. "Vídeos engraçados e com montagens da Gretchen rendem muito".
Eu quando o professor explica a matéria olhando p mim pic.twitter.com/Q1pYPd8GQC
— Depressão Universitária (@universitariaOF) December 4, 2019
Limitação
Se para quem vive em grandes cidades, há dificuldades para crescer nas redes sociais, quando se trata de cidades meores a situação fica ainda mais complicada. Pedro é dono da página mais influente de sua cidade, Montes Claros, interior de Minas Gerais, mas já viu gente virar os olhos por não entender o trabalho que ele faz na internet. "Ainda há uma limitação por aqui, ainda que eu seja o maior influenciador, o que tem mais seguidores. As pessoas não valorizam tanto o trabalho digital. Felizmente, eu estou começando a mudar a mentalidade das pessoas", acrescenta.
Mas se tem quem não goste, tem também quem aprove a influência do jovem nas redes sociais. "A história mais engraçada que eu já vivi foi quando eu parei no shopping e me pediram para tirar foto. Foi engraçado porque achavam que o administrador da Depressão Universitária era uma mulher, só porque eu trato a página com muita sensibilidade. Quando eu me revelei, as pessoas ficaram chocadas. Eu falei: 'Meu deus, será que eu sou uma pessoa famosa?'.
Famosíssima ou não, a página está em fase de crescimento, ainda mais agora que Pedro Santos virou comentarista de BBB, mas sem ter "brother favorito, já que divide a torcida entre Babu Santana, Thelma e Marcela. Talvez os astros expliquem. "Sou capricorniano. É essencial falar o signo, viu?".