O reinado de Elizabeth II completou 70 anos no dia 6 de fevereiro. O curioso é que ela não nasceu para ser rainha. Acabou no trono porque seu tio, Eduardo VIII, abdicou para se casar com a americana divorciada Wallis Simpson. Com isso, o pai de Elizabeth, Albert, se tornou rei com o nome Jorge VI, e ela virou a herdeira presumida da coroa.
Às vésperas de completar 96 anos, a monarca mais famosa do planeta vê crescer a especulação de que vai anunciar a abdicação em favor do príncipe Charles. A saúde da rainha está cada dia mais frágil. Dias atrás, pela primeira vez, ela comentou que não consegue mais se locomover com facilidade. Tem usado uma bengala o tempo todo.
Muitos perguntam: por que Elizabeth não abdica para viver em paz seus últimos dias de vida? A resposta está na personalidade da rainha. Trata-se de uma mulher apegada às tradições. Na história da Inglaterra, apenas quatro monarcas abriram mão do trono (Ricardo II, Mary Stuart, Jaime VII e o já citado Eduardo VIII). Todos foram obrigados a deixar o poder em situação extrema, nenhum por vontade própria.
Elizabeth deseja cumprir o juramento feito na cerimônia de sua coroação em 2 de junho de 1953. “Declaro diante de todos que, durante toda a minha vida, seja ela longa ou curta, estarei a seu serviço e ao serviço de nossa grande família imperial, da qual todos nós pertencemos.”
A matriarca da dinastia Windsor quer sair de cena apenas ao morrer, assim como seu pai, o avô, o bisavô, a tataravó (a lendária rainha Vitória) e demais antepassados que ocuparam o trono até o último suspiro. Uma questão de compromisso e honra de uma mulher que sempre teve dificuldades de se adaptar às mudanças de costumes e gerir a necessária modernização da monarquia.
A menos de 400 km de Londres, uma rainha agiu diferente. Em 30 de abril de 2013, após exatamente 33 anos no trono, Beatrix dos Países Baixos (conhecidos informalmente como Holanda), empossou seu filho mais velho, Guilherme, como rei. Ela voltou a ser princesa. Está com 84 anos.
Beatrix seguiu o exemplo da própria mãe, rainha Juliana, que em 1980 abriu mão da coroa para que ela ascendesse. A mãe de Juliana, rainha Guilhermina, também deixou o trono para favorecer a herdeira. Nos Países Baixos, a abdicação é vista com naturalidade porque está incorporada na história da família real, pertencente à Casa Orange-Nassau. As monarcas mais velhas priorizam as novas gerações.
Na época da decisão de Beatrix, tabloides britânicos relataram que Elizabeth teria comentado: “Jamais farei como as holandesas”. Há mais de 25.000 dias como rainha, ela alimenta a ansiedade de Charles, 73 anos, pela sucessão. A posição do Príncipe de Gales é complexa: só vai cumprir sua missão na vida quando a mãe morrer ou caso ela abdique.
O fato de Elizabeth ter dito recentemente que gostaria de ver a nora, Camilla Parker-Bowles, como rainha consorte quando Charles se tornar rei, suscitou a suspeita de que ela poderá se retirar do trono ainda em vida. Até então, prevalecia a ideia de que Camilla, antes bastante impopular por ter sido rival da princesa Diana, deveria ser princesa, jamais rainha consorte. (O tratamento de rainha consorte é para a mulher casada com o rei; o título de rainha ou rainha reinante se aplica exclusivamente àquela que herdou o trono.)