O ator Alec Baldwin negou, em entrevista a uma emissora americana, a responsabilidade pelo tiro fatal que matou uma diretora de fotografia durante os ensaios de um filme de que participava e disse que teria se matado se acreditasse que foi sua culpa.
Ele disse que, inicialmente, pensou que Halyna Hutchins havia desmaiado e levou pelo menos 45 minutos para perceber que a arma poderia conter munição real.
Baldwin também falou sobre os pesadelos que vem tendo após o episódio e admitiu que sua carreira pode ter acabado.
"Pode ser", disse o ator de 63 anos em uma entrevista ao jornalista George Stephanopoulos, da emissora americana ABC News, durante a qual se emocionou várias vezes.
"Não dou mais a mínima para a minha carreira."
Baldwin acrescentou que acredita ser "altamente improvável" que seja acusado criminalmente.
Segundo ele, foi a pior coisa que já lhe aconteceu e que ele pensa com frequência "no que eu poderia ter feito".
Ele disse que decidiu fazer a entrevista porque "pensei que havia uma série de equívocos", acrescentando "faria qualquer coisa para desfazer o que aconteceu."
A entrevista foi transmitida nos Estados Unidos na noite de quinta-feira (2/12). Foi a primeira vez que Baldwin falou sobre o incidente para as câmeras, exceto por uma breve entrevista que ele deu ao site TMZ em outubro, em uma tentativa de impedir os paparazzi de segui-lo e sua família.
O incidente aconteceu no dia 21 de outubro durante as filmagens do filme de faroeste Rust, no Estado americano do Novo México.
Munição real
Questionado se ele se sentia culpado pela morte de Hutchins, Baldwin disse que: "Não. Honestamente, se achasse que fui o responsável, poderia ter me matado. E não digo isso levianamente. Alguém é responsável pelo que aconteceu, e eu não posso dizer quem é, mas não sou eu".
"Alguém colocou uma bala viva em uma arma, uma bala que nem deveria estar na propriedade. Só há uma questão a ser resolvida: é de onde veio a bala real?"
E acrescentou: "Não tenho nada a esconder".
Ator de sucesso, Baldwin estreou diversas produções de Hollywood. Recentemente, sua carreira ganhou novo fôlego por sua personificação do ex-presidente americano Donald Trump no programa de TV Saturday Night Live, um dos mais assistidos dos Estados Unidos.
"Não sei o que aconteceu naquele set. Não sei como a bala chegou naquela arma. Não sei", disse Baldwin.
"Mas sou totalmente a favor de qualquer coisa que nos leve a um lugar onde é menos provável que isso aconteça novamente."
O ator disse que Hutchins estava dirigindo cada movimento seu.
"Ela estava me orientando sobre como queria que eu segurasse a arma e para qual ângulo".
"Estava segurando a arma na posição em que ela me disse para segurá-la, que acabou sendo apontada para bem abaixo de sua axila."
Para conseguir a tomada, o ator disse que precisava engatilhar a arma, mas não dispará-la.
Ele afirmou que não puxou o gatilho.
"O gatilho não foi puxado. Não puxei o gatilho".
"Engatilhei a arma. E disse, 'Você pode ver isso? Você pode ver isso? Você pode ver isso?'
"E então eu solto o cão da arma e a arma dispara", disse Baldwin.
"Em primeiro lugar, todos estão horrorizados, estão chocados, há muito barulho. Ela (Hutchins) cai. Pensei comigo mesmo: 'Ela desmaiou?'. A noção de que havia uma bala verdadeira naquela arma não me ocorreu até provavelmente 45 minutos a uma hora mais tarde", acrescentou.
Baldwin também negou que a redução de custos tenha impactado a segurança do set do filme, do qual também foi produtor.
"Na minha opinião, não", disse ele. "Eu, pessoalmente, não observei nenhum problema de segurança ou proteção durante todo o tempo que estive lá."
Investigação
Hutchins, de 42 anos, foi levada para o hospital de helicóptero após o incidente — mas morreu mais tarde devido aos ferimentos. O diretor do filme, Joel Souza, de 48 anos, também ficou ferido.
De acordo com a Justiça americana, Baldwin recebeu a arma do assistente de direção do filme, Dave Halls, que alegou não saber que ela continha munição real.
Halls, por sua vez, disse que Hannah Gutierrez-Reed, de 24 anos, responsável pelas armas no filme, foi quem lhe entregou o revólver.
Os advogados de Gutierrez-Reed disseram que ela não sabia de onde "as balas reais vieram". Essa questão está agora no centro de uma investigação policial nos EUA.
Os investigadores já obtiveram um mandado de busca nas instalações de um fornecedor de armas nos EUA.
Uma declaração juramentada anexada ao mandado diz que a polícia foi informada que a munição para o filme veio de várias fontes, incluindo a empresa PDQ Arm & Prop.
O documento afirma que o proprietário da companhia, Seth Kenney, disse aos investigadores que a munição real pode ter sido de alguma "munição recarregada".
Ele alega que a munição que forneceu para o filme consistia em balas de festim, de acordo com o depoimento.
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