Ocupante da cadeira nº 31 da Academia Brasileira de Letras desde 2011, o jornalista Merval Pereira, 71 anos, deverá ser eleito presidente da instituição em dezembro. O comentarista de política da GloboNews e colunista de ‘O Globo’ é um dos poucos homens de confiança da família Marinho, com acesso direto à cúpula do Grupo Globo.
Na TV, ele não poupa críticas e ironias a Jair Bolsonaro e ao governo federal. Suas análises contundentes já o fizeram ser alvo de ataque verbal do presidente. No comando da ABL, Merval terá a missão de equilibrar as contas da casa, marcar posição contra a taxação de livros na reforma tributária e reafirmar a defesa das liberdades de expressão e imprensa.
No momento, quatro cadeiras da Academia estão vagas. Duas já têm donos. A eleição da atriz Fernanda Montenegro, 91 anos, e do cantor e compositor Gilberto Gil, 79, está mais do que acertada. Só falta a atual presidência definir os critérios para que os imortais votem sob as restrições impostas pela pandemia de covid-19.
A artista premiada com o Emmy Internacional se manifestou algumas vezes contra Bolsonaro. Foi uns dos signatários do ‘Manifesto pela vida acima de tudo’ que condenou a “política genocida”. Ela se revoltou ao analisar a forma como a classe artística tem sido tratada pelo governo. “Se eles pudessem, estaríamos todos num paredão e eles atirando em nós com metralhadoras.”
Em outubro de 2019, Fernanda Montenegro foi capa da revista literária Quatro Cinco Um. Em foto repercutida na imprensa e viralizada nas redes sociais, ela aparecia vestida de bruxa, amarrada e com livros espalhados aos pés. Uma referência às mulheres sábias sacrificadas na fogueira na era medieval e à queima de livros pelos nazistas na década de 1930.
Ex-vereador de Salvador e ex-ministro da Cultura de Lula, Gilberto Gil disse em entrevistas que a situação vai melhorar apenas quando “mudar o governo”. Em entrevista a Pedro Bial na Globo, o cantor disse que reza por Bolsonaro. Uma de suas músicas, ‘Pessoa Nefasta’, do álbum ‘Raça Humana’, foi associada ao presidente.
‘Tu, pessoa nefasta / Vê se afasta teu mal / Teu astral que se arrasta tão baixo no chão / Tu, pessoa nefasta / Tens a aura da besta / Essa alma bissexta, essa cara de cão’, diz trecho da composição de 2018, ano da última eleição presidencial. Gil nunca afirmou ter se inspirado em Jair Bolsonaro.
A mesma ABL que tem Merval Pereira e em breve contará com Fernanda Montenegro e Gilberto Gil já possui entre seus membros Paulo Coelho, autor de vários best-sellers, como ‘O Alquimista’ e ‘Diário de um Mago’. Nos últimos meses, o escritor com fama de bruxo está em batalha pessoal contra o presidente.
Dividindo-se entre França e Suíça, Coelho usa as redes sociais e sua visibilidade na mídia internacional para contestar Bolsonaro. Em posts, o chamou de “canalha” e o associou aos “assassinos de Paulo Gustavo”, dando a entender que o humorista morto aos 42 anos por covid-19, em maio, foi vítima dos negacionistas e da demora na contratação de vacinas.
Em entrevistas, o escritor sugeriu boicote a produtos brasileiros como resposta ao desmatamento na Amazônia e ao descontrole na gestão da pandemia no País. Jair Bolsonaro reagiu: o xingou de “idiota” em uma live. Na internet, bolsonaristas anunciaram que não vão mais comprar livros de Paulo Coelho. Alguns chegaram a gravar um vídeo queimando vários exemplares.