Uma das brincadeiras do momento entre usuários do app TikTok é dar nota de 0 a 10 aos famosos que a pessoa conheceu pessoalmente. Há elogios rasgados às celebridades simpáticas e também duras críticas aos artistas e influenciadores com comportamento esnobe ou desrespeitoso.
Na vida real, há quem confronte a personalidade desdenhosa cara a cara. Foi o que a dona de um restaurante fez ao quebrar uma escultura de quase 5 mil dólares (cerca de 30 mil reais) de Romero Britto na frente do próprio artista plástico.
Ela disse ter sido um protesto em reação à maneira prepotente com que escultor e pintor tratou um funcionário de seu estabelecimento. "Eu te respeitava", gritou a mulher. O vídeo gerou milhões de visualizações no aplicativo e manchetes mundo afora.
A expressão de Romero Britto — entre a incredulidade e o constrangimento — inspirou memes e foi usada para ilustrar matérias na imprensa. A cena inusitada gerou certo frenesi nas redes sociais. Desprezado pelos críticos das artes visuais, que não reconhecem valor cultural em sua obra, o criador pernambucano tem fama de temperamental e excessivamente vaidoso.
O hábito de homenagear políticos no exercício do poder desagrada a quem enxerga mero oportunismo. No Brasil atual, radicalizado e polarizado, a pintura feita por Romero Britto de Jair Bolsonaro virou chacota por mostrar o presidente com boca cor-de-rosa. Opositores do bolsonarismo não perderam a piada pronta. "Adorei o batom", debochou o jornalista José Simão no Twitter. O artista plástico de estilo multicolorido foi, mais uma vez, alvo de desprezo e ataques.
Independentemente do que aconteceu no tal restaurante, o episódio vexatório com Romero Britto ressalta a recusa de pessoas anônimas a serem desprezadas ou ofendidas por quem ostenta fama e suposto poder. Antes, a reação a um tratamento indigno raramente tinha consequência relevante e algum dano ao artista.
Hoje, todo mundo com celular em mãos, um flagra de chilique ou desprezo viraliza em poucos minutos e pode suscitar prejuízo imensurável à imagem da celebridade envolvida. O público, sempre ávido por escândalos, delira ao ver um totem de vaidade balançar diante da trepidação provocada por um anônimo ultrajado.