A situação ultrajante de Marcos Oliveira, o Beiçola de ‘A Grande Família’, gera sentimentos ambíguos: empatia, solidariedade, comoção e compadecimento, mas também desconfiança, indiferença e até impiedade.
Vê-se um ator talentoso, de 68 anos, em vias de ser despejado com seus 3 cães, ignorado pela televisão e sem esperança de trabalho. Corre o risco de uma velhice indigna após já ter feito apelos por ajuda nas redes sociais.
E se enxerga também um artista que, sob a interpretação de alguns, demonstra arrogância e ingratidão ao criticar a emissora onde trabalhou por muitos anos, garantindo a ele alguma estabilidade no período.
“Se me perguntarem alguma coisa da TV Globo, eu não sei e não quero nem saber”, disse no podcast Papagaio Falante. “... Tem uns dedinhos podres lá dentro, a gente não sabe quem é, mas tem gente lá que gosta de puxar o tapete. Mágoa eu não tenho, tenho ressentimento.”
No ‘Splash’, do UOL, nova artilharia. “Tanta gente que saiu, tanta gente que está lá e não tem o menor talento, gente grossa... É uma ideologia meio barra pesada para mim.” Afirmou ainda que algumas novelas da Globo “são muito ruins”.
Marcos Oliveira exerceu o direito à liberdade de opinião. A falta de diplomacia ao se referir ao antigo empregador pode explicar a falta de convites do canal. Difícil imaginar que diretores, autores e produtores de elenco ignorem suas palavras duras. Ele paga o preço por dizer o que tantos pensam, mas não ousam verbalizar.
Há outros aspectos complicadores. O primeiro, a idade. Não há grande oferta de personagens a atores mais velhos, especialmente quando associados à comédia, como no caso dele. O fato de ser um homem doente também pode inibir oportunidades, ainda que tenha provado sua força de vontade quando, por exemplo, atuou bravamente usando bolsa de colostomia.
As ajudas financeiras recebidas de Deolane Bezerra, Tatá Werneck e doadores de vaquinhas virtuais suscitaram o questionamento na internet sobre a gestão do dinheiro, assim como tantos desaprovam sua resistência em ir para o Retiro dos Artistas devido à regra de levar apenas um animal de estimação.
Aliás, uma das grandes apoiadoras da instituição é uma antiga colega de Marcos Oliveira em ‘A Grande Família’: Marieta Severo, que viveu Dona Nenê, alvo da paixão de Beiçola. A atriz faz visitas ao local e incentiva colegas a ajudarem a instituição.
A triste realidade do intérprete do simpático Beiçola não é exceção: há incontáveis artistas igualmente no ostracismo, sem dinheiro para o básico, com saúde física e mental abaladas, enfrentando o crepúsculo da vida sem perspectiva de um final feliz.
