Se parte numerosa do público não reconhece mais Regina Duarte em razão de sua militância pela extrema-direita, alguns amigos – ou melhor, ex-amigos – se mostram ainda mais chocados.
É o caso de Elisa Lucinda, a dona de casa evangélica Marlene da novela das 19h da Globo, ‘Vai na Fé’. A amizade das duas começou em 2006, nos preparativos para a novela ‘Páginas da Vida’, quando interpretaram médicas que eram confidentes, Helena e Selma.
A atriz e poeta contou ter sido surpreendida com uma ligação às vésperas do início das gravações. “A gente vai fazer uma novela em que seremos amigas, quero que venha aqui em casa e a gente vire amigas mesmo”, disse Regina, segundo relato de Elisa.
A amizade se tornou tão forte que saíam juntas para procurar liquidações em lojas populares. Em 2012, Regina Duarte desfilou em carro alegórico na escola de samba Boa Vista, em Vitória (ES), que transformou Elisa Lucinda em tema de enredo. “Não cobrou nada... Incrível. Uma outra Regina Duarte”, lembra.
Quando Elisa estava em cartaz com peças em São Paulo, a amiga fazia jantares em sua homenagem, reunindo a classe artística. “Ela acolhia.” Como retribuição, Lucinda escreveu um texto para a exposição dos 50 anos de carreira da ex-namoradinha do Brasil.
O convívio agradável durou até a ascensão de Bolsonaro. Defensora de pautas conservadoras e fã incondicional do ex-militar, Regina Duarte não aceitou as contestações da colega esquerdista. A revelação foi feita em entrevista de Elisa ao Podpocar.
“Em 2018, quando começou a polaridade política, a ficar escroto, eu comecei a falar coisas com ela, e ela me bloqueou no WhatsApp. Ela sumiu, nunca mais houve uma palavra. A gente era ‘brother’.”
“Aconteceu uma bipolaridade”, disse Elisa, tentando entender a mudança em Regina Duarte. A artista afirma não ter notado nenhum traço de radicalização no passado. “De todos os bolsonaristas que conheço, nunca presenciei uma escrotidão da Regina.”
Como exemplo de cumplicidade, Elisa Lucinda contou ter recebido o apoio da então amiga quando sofreu um atrito com um profissional da Globo que exigia o alisamento de seu cabelo por “questão de assepsia”.
Após o distanciamento provocado pela devoção ao bolsonarismo, Elisa e sua ex-‘brother’ viveram um reencontro inusitado. A atriz apareceu disfarçada – lenço, chapéu, óculos e máscara – na sessão de autógrafos de um livro de poemas de Lucinda.
“Ela me entregou o texto de uma peça para fazermos juntas, mas prefiro não me aproximar de alguém que luta por um País no qual não acredito”, afirma.
Recentemente, em reação a algumas fake news compartilhadas pela ex-amiga, Elisa deixou um comentário no Instagram de Regina.
“Respeite o presidente eleito. Deixe de ser antidemocrática. Você tem netos. Não os ensine a desrespeitar o presidente da República. Você deveria ter se oposto à extinção do nosso ministério. A classe está chocada com você, Regina. Uma história linda você escreveu e está dando conta de apagar. Aceite o resultado das eleições. Ou então desista de pronunciar a palavra democracia.”
Regina Duarte rescindiu amigavelmente o contrato com a Globo em fevereiro de 2020 após 50 anos na emissora. Ela deixou a TV para ser secretária Especial de Cultura do governo Bolsonaro. Durou apenas 77 dias no cargo.
Foi prometido a ela um trabalho na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Nunca aconteceu. A atriz chegou a ser cogitada para uma novela que está sendo produzida pela plataforma de streaming HBO Max. Teria havido uma rebelião do elenco contra a contratação dela. Por enquanto, não há notícia sobre a retomada da carreira da artista.
