Na noite desta segunda-feira (28), a Globo exibe o especial ‘Falas de Orgulho’, com depoimentos de gays, transexuais, bissexuais e representantes de outras identidades sexuais. Trata-se, inegavelmente, de imensurável contribuição da emissora contra o preconceito e a favor da conscientização e da tolerância.
Mas, no sábado (26), o mesmo canal mostrou que ainda está longe de ser realmente liberal. Ao cantar o hit ‘Ama Sofre Chora’ no Caldeirão do Huck, a cantora drag Pabllo Vittar foi obrigada a não dizer a palavra ‘piranha’ no refrão. No lugar, encaixou o próprio nome.
O trecho original: ‘Piranha também ama / Piranha também chora / Piranha também sofre se você vai embora / Piranha também ama / Piranha também chora / Piranha também sofre se você ignora / Piranha também chora / Piranha também chora’.
Tal imposição é um desrespeito aos compositores, à intérprete e ao público dela. Trata-se da descaracterização de uma obra, goste-se ou não da música. O problema vai além: Pabllo já disse ter sido boicotada em rádios por conta do mesmo termo. A Globo repetiu a atitude conservadora.
Pode-se argumentar que o ‘piranha’ seria ofensivo aos telespectadores do final da tarde. Neste caso, seria melhor nem ter convidado a artista. Afinal, sua figura andrógina quando está à paisana e a imagem sexualizada de drag queen ao cantar pode chocar a tradicional família brasileira.
Estamos em 2021: alguém se sente violado ao ouvir ‘piranha’ numa canção quase romântica? Programas de TV já tocaram raps, funks e até músicas sertanejas com palavras, expressões e conotações bem mais libidinosas. O melhor censor chama-se controle remoto, ao alcance de qualquer um.
Desta vez, a Globo agiu com puritanismo incompatível com seu discurso moderno. Justamente com um dos maiores ícones LGBTQIA+ do País e no mês da diversidade. Como diria o ídolo gay do ‘BBB21’, Gil do Vigor, foi uma ‘cachorrada’ — no pior sentido da expressão.