A agência reguladora de rádio e TV na China anunciou que vai banir a estética "afeminada" em programas de entretenimento, alegando que "influências vulgares" devem ser evitadas no país. Em vez do "conteúdo insalubre", conforme a entidade define, a programação chinesa deve dar lugar a "conteúdo revolucionário".
Além de estimular programas que promovam uma atmosfera patriótica e o socialismo, a agência quer promover o que chama de homens másculos, criticando celebridades masculinas que usam muita maquiagem.
A entidade, que tem status de ministério, declarou que critérios de conduta moral e política devem ser incluídos na seleção de pessoas que participarem de programas. Com isso, algumas competições de talentos, boy bands de Mandopop e K-Pop e "celebridades vulgares da internet" estão vetados.
O tom da iniciativa foi apresentado num artigo de opinião publicado no final de agosto no jornal estatal Guangming Daily, que alegava que algumas celebridades "afeminadas" eram imorais e poderiam prejudicar os valores dos adolescentes chineses.
No anúncio oficial, os reguladores usaram termos depreciativos e altamente homofóbicos - ao menos na tradução em inglês divulgada pela mídia ocidental - , afirmando que o objetivo é "pôr fim de forma definitiva nos homens maricas e outras estéticas anormais".
O anúncio, porém, não foi bem visto na rede social Weibo, bastante popular na China. Desafiando as autoridades, vários usuários criticaram a iniciativa, afirmando se tratar de discriminação e pedindo respeito à diversidade.
A homossexualidade não é ilegal na China, mas autoridades fazem, em geral, censura rígida do tema. Todas as referências gays foram tiradas do filme "Bohemian Rhapsody", sobre o cantor Freddie Mercury, por exemplo. E a situação já rendeu censuras bizarras. Em 2019, a agência reguladora mandou que as emissoras borrassem as orelhas de jovens pop stars em suas aparições na TV e na internet, para esconder seus brincos ou piercings. Tatuagens e rabos de cavalo em homens também costumam ser borrados na televisão.
O recrudescimento faz parte de uma queda de braços do Partido Comunista chinês em relação à indústria do entretenimento chinesa. Para as autoridades, a maioria dos artistas famosos são antirrevolucionários, pois alimentam a ilusão de um estilo de vida burguês.
Além de censurar a aparência, o governo também tem denunciado os salários elevados dos artistas, não compatíveis com os ideias socialistas, e a suposta evasão fiscal dessa indústria. Algumas atrizes famosas chegaram a "desaparecer" e ressurgir com pedidos de desculpas pela ostentação e multas milionárias para evitar a prisão.
Apesar do cerco, o entretenimento chinês deve faturar em torno de US$ 358 bilhões neste ano, segundo um relatório recente da consultoria PwC.