Fernanda Montenegro por ‘Central do Brasil’ em 1999. Fernanda Torres por ‘Ainda Estou Aqui’ em 2025. Mãe e filha. Duas gerações de artistas. As únicas atrizes brasileiras indicadas na principal categoria de interpretação feminina do Oscar. Mais do que um feito histórico, um capricho comovente do destino.
Agora, é torcer. Fernanda Torres já é vencedora, mesmo que a estatueta dourada não vá para as suas mãos. Raras artistas de língua não-inglesa conseguiram uma indicação ao lado das estrelas de Hollywood. Independentemente do resultado a ser conhecido na cerimônia em 2 de março, ela merece mais aplausos de pé, como fez Tilda Swinton ao festejá-la no ‘Globo de Ouro’.
Para que Fernanda Torres chegasse ao Oscar, outras atrizes brasileiras colaboraram para abrir o caminho nos Estados Unidos. Entre elas, sua própria mãe, é claro, e também Alice Braga (‘Eu Sou a Lenda’, ‘Elysium’, ‘A Cabana’), Morena Baccarin (‘Deadpool’, ‘Destruição Final’, ‘Deadpool & Wolverine’) e a pioneira Sônia Braga.
A maioria dos ‘novinhos’ das gerações Z e Alfa, e até muitos dos nascidos no fim da geração Millennial, não conhecem – ou sabem pouco – da paranaense de Maringá que está com 74 anos.
Estrela do cinema nacional e de novelas da Globo, ela foi passar uma temporada em Nova York no começo da década de 1980, para divulgar ‘O Beijo da Mulher Aranha’, e permanece lá até hoje. Enfrentou o desprezo dos grandes produtores a artistas latinos e a objetificação da mulher sensual. Conquistou respeito e tornou-se uma referência. Foi três vezes indicada ao Globo de Ouro, prêmio vencido por Torres este ano.
Voltou ao Brasil apenas para trabalhar. Seus filmes mais recentes no País foram ‘Bacurau’ (2019) e ‘Aquarius’ (2016), sucessos de crítica e público. Na TV, a última novela foi ‘Páginas da Vida’, na Globo, há 19 anos. A galeria de longas e séries norte-americanos de Sônia Braga inclui ‘Casamento Arranjado’, ‘Olhar de Anjo’, ‘Rebelião em Milagro’, ‘Brothers and Sisters’, ‘Sex And The City’ e ‘Law & Order’.
Em 1987, devido ao sucesso internacional de ‘O Beijo da Mulher Aranha’, produção brasileira dirigida por Hector Babenco, ela recebeu convite para ser uma das apresentadoras do Oscar. Foi chamada de “glamourosa” quando Goldie Hawn a chamou ao palco. A brasileira, com 36 anos na ocasião, surgiu com o astro Michael Douglas para anunciar a categoria de Melhor Curta-Metragem.
Sempre descontraída, soltou um “estou com saudades (do Brasil)” no meio de sua fala em inglês. A revista ‘Cosmopolitan’ elegeu seu look como um dos mais sensuais na história da premiação. Ninguém sabia que o vestido do estilista Bob Mackie havia sido alugado em uma loja comum de Los Angeles.
Passaram-se 38 anos. Nenhum outro artista brasileiro viveu a honra de ser apresentador no Oscar. Mas, agora, temos uma segunda indicada ao prêmio da Academia. Aos 59 anos, Fernanda Torres grava seu nome em Hollywood. Ela é o Brasil. E, nós, somos todos Fernanda.