Como se anuncia o fim de um relacionamento? Para Sandy e Lucas Lima, foi um texto conjunto no feed do Instagram. Para Luísa Sonza, uma carta aberta sobre traição ao vivo na TV Globo. Para Gustavo Mioto e Ana Castela, com comunicados distintos - em primeira pessoa - nos stories de cada um. Nos três casos, foram anúncios bombásticos, que atraíram milhares de fãs e curiosos.
Celebridades têm um estilo de vida muito diferente do nosso, mas não escapam de algumas experiências universais. Elas também amam, também passam por desilusões amorosas. E também têm que achar um jeito de contar quando acabou.
Linha do tempo de um comunicado
A desilusão amorosa de um cliente não está na agenda de um assessor. Mas um dia, acontece. Para Carolina Terra, consultora de mídias sociais, professora universitária e especialista em Relações Públicas e Comunicação Organizacional, o primeiro passo é entender o contexto para pensar na estratégia.
"Tem algumas situações em que cada membro do casal faz o seu anúncio separado e tem outras em que eles optam por divulgar a mesma nota", diz. A escolha vai depender da dinâmica desse casal e como a separação ocorreu.
A partir daí, o mais comum é que o assessor redija ou planeje uma mensagem, que pode ser aprovada, rejeitada ou editada pelo seu cliente. Para ela, um comunicado precisa de três coisas ideais:
- sensibilidade, para que o público entenda o momento que o artista está passando;
- objetividade, para deixar pouca margem para conversa;
- e autenticidade, para que o público entenda que é o artista falando.
Quando são duas figuras públicas, a situação fica mais complexa. "O ideal é que as duas assessorias elaborem um plano conjunto para que a mesma mensagem chave seja difundida dos dois lados. Em geral, é o que acontece", explica Carolina. São aquelas mensagens típicas que já conhecemos: "Elas postam o mesmo texto, pedem privacidade, pedem respeito aos fãs por esse momento de dor".
E quando isso não acontece e a equipe opta por comunicados individuais? Para a professora, "o que tem que estar muito acordado é qual é a mensagem que tem que estar sendo transmitida e quem vai falar em nome desse término". Um exemplo recente mostra o risco de quando isso não acontece.
No dia 21 de setembro, os cantores Lexa e MC Guimê anunciaram o término com postagens separadas - e sucintas - em suas redes sociais. Dias depois, a mãe do funkeiro foi a público acusar a cantora de trair seu filho. O assunto, claro, movimentou a internet.
"Você acaba deixando cair por terra toda uma estratégia que foi pensada pela assessoria de comunicação porque veio um agente externo que falou supostamente em nome de uma das partes", explica Carolina.
Quanto revelar? Sandy e Luísa Sonza são exemplos opostos
Vale a pena revelar os detalhes do fim da relação? Os especialistas diferem sobre qual é a melhor estratégia para cada cliente, mas todos concordam que o caminho correto é o que deixa menos espaço para especulações.
"Explicando em detalhes, o casal se expõe muito mais, mas pode ser importante para estancar rumores e boatos", afirma Juliana Mattoni, empresária artística e assessora na Mattoni Comunicação, que atende nomes como Isis Valverde e Claudia Raia.
Já Carolina diz que essa decisão costuma ser influenciada pelo grau de exposição que o casal mantinha quando estava junto.
Há estratégias que podem blindar o artista ainda mais. A equipe de Paula Fernandes, por exemplo, escolheu anunciar o término da artista horas depois de Sandy - assim, conseguiu divulgar a notícia evitando o excesso de repercussão.
O outro extremo dessa lógica é o caso de Luísa Sonza, que revelou a traição de Chico Moedas em um programa matinal da maior emissora do País. Para Carolina, a cantora já tinha o costume de publicizar suas relações desde o início da carreira - o casamento com Whindersson Nunes teve vídeo no Youtube, Vitão protagonizou seus videoclipes e Chico ganhou música no topo das paradas.
Kamilla acredita que a exposição tem a ver com a linguagem do artista pop. "Da mesma forma que ele aparece de cara lavada pedindo 'Baixe minha música', ele tem que entender que seus fãs também se interessam em sua vida", reforça. "Isso é ótimo, mas em compensação saiba, se você tiver algum movimento que interesse aos fãs [como um término], você tem que aprender um jeito de comunicar".
Além de condizer com a comunicação de Luísa, Carolina considera que a forma com que a artista lidou com o caso teve benefício para sua carreira. "Como ela é assessorada por uma plataforma de marketing de influência, a Mynd8, ficou-se com a impressão - ninguém sabe ao certo - de que a assessoria dela tentou capitalizar em cima desse término", aponta.
Redes sociais ou televisão? Não há resposta certa
"Antigamente, quando comecei e a internet não dava todos os 'furos' e a velocidade do online não era tão grande, costumávamos anunciar separações após os fechamentos das grandes revistas semanais para que não tivessem tanta cobertura ou destaque de capa e fosse tratado com mais discrição", conta Mattoni.
Para Juliana, agora, o tal "comunicado no feed" pode suprir a necessidade rápida de resposta. "É sempre um caminho interessante, porque mostra coesão e maturidade de ambas as partes", afirma.
Já Kamilla defende o oposto. "Sou totalmente contra o artista se posicionar em redes sociais, porque isso dá brecha para muitas discussões e aquele assunto continua. E é um assunto desconfortável. O produto é uma pessoa".
Ela comenta o caso de Larissa Manoela, que levou sua vida pessoal ao Fantástico. "A internet inteira estava falando da vida dela. Ia adiantar ela rebater através dos stories dela? Não. Ela procurou um veículo grande, falou uma vez só, e aquilo foi para a internet também".
Dada a complexidade do assunto, é normal encontrar profissionais que divergem sobre o melhor caminho. Mas um ponto é reforçado por todos eles: trata-se de um tópico sensível, que pede cuidado. Ter estratégia "faz muita diferença nessa hora, porque entende que se trata de um ser humano", diz Kamilla.
"Você, como pessoa, não vai virar a página da noite pro dia. Existe um tempo de maturação que é importante ser respeitado. E é preciso encontrar a forma mais confortável de falar [sobre isso]".
*Julia é estagiária sob supervisão de Charlise Morais