Um dos maiores poetas brasileiros, Mario Quintana, escreveu um pensamento que serve a quase toda pessoa que carrega as cicatrizes de um amor sem final feliz. “O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente.”
Nos últimos dias, três mulheres famosas geraram manchetes na imprensa por declarações depreciativas a respeito de ex-companheiros. Elas parecem usar o poder de sua voz na mídia para expurgar o que ainda resta de sofrimento pela decepção no relacionamento.
Em diferentes podcasts, a atriz Giselle Itié afirmou ter se sentido abandonada e sexualmente rejeitada pelo então marido, o ator Guilherme Winter, ao longo da gravidez.
Disse ainda ter cogitado um aborto, aparentemente por não se sentir confortável em ter um filho dele. Com o apoio da família, deu continuidade à gestação. O artista se defende alegando “inverdades que não refletem a realidade”.
No ‘Sem Censura’, da TV Brasil, onde está no ar na novela ‘Sangue Oculto’, a atriz Luana Piovani voltou a criticar Dado Dolabella, a quem acusou de agressão física quando namoravam em 2008.
“As pessoas diziam que eu tinha feito aquilo (a denúncia à polícia) porque eu queria aparecer, porque eu queria chamar atenção. E existiam milhões de mulheres que brincavam, falavam: ‘Vem bater em mim’. Porque o cara é considerado bonito, sex symbol”, afirmou, com olhos marejados.
Numa rede social, o ator apresentou se posicionou. “Não houve agressão. Ela me agrediu e eu me livrei da agressão dela.”
No documentário ‘Belo, Perto Demais da Luz’, recém-lançado no Globoplay, Gracyanne Barbosa surpreende ao apontar um defeito do cantor, de quem se separou este ano.
“Eu só sei o que ele gosta de verdade e o que ele é porque eu dormi e acordei do lado dele. Porque ele não fala, não assume. E aí, com isso, ele mente. E ele mente compulsivamente, mente tudo o tempo todo”, disse.
“... ele mente coisas insignificantes. É muito difícil você olhar a pessoa no olho, saber a verdade, e a pessoa olhar para você e mentir.”
Giselle, Luana e Gracyanne dividiram opiniões na internet. Para uma parcela numerosa, as três têm direito de superexpor os ex. Seria uma espécie de justiça pelo padecimento amoroso. Os homens citados mereceriam o julgamento público por seus atos privados.
Outra parte das redes sociais enxerga uma vingança de mulheres feridas, que não aceitaram bem o final frustrante do casamento ou namoro. Sugerem que elas deveriam esquecer o passado e se calar.
A coluna destaca a importância de as mulheres, sejam famosas ou anônimas, terem espaço relevante para serem ouvidas. Essa ‘lavagem de roupa suja’ diante de câmeras pode ter intenção terapêutica e, provavelmente, represente um grito tardio por socorro emocional. Emparedados, os homens têm o direito de apresentar sua versão dos fatos.
O universo das celebridades possui inúmeras Giseles, Luanas e Gracyannes. Poucas dão a cara à tapa por vergonha ou medo – os dois sentimentos juntos, às vezes. Há ainda o temor de sensacionalismo em torno da vida íntima e algum prejuízo à carreira. Ainda existe muito machismo nos bastidores da televisão, assim como na sociedade em geral.