Julio Rocha fez carreira na Globo interpretando galãs em novelas, como o Edgar de 'Caras e Bocas', o Enzo de 'Fina Estampa' e o João Batista de 'Duas Caras'. Agora, aos 43 anos, ele se aventura em um novo ramo, o literário, enquanto aguarda o nascimento da terceira filha. A bebê, que teve um chá revelação que deu errado, já tem até dois possíveis nomes: Cora ou Live.
O livro surgiu de uma demanda do público, segundo Júlio Rocha, que se acostumou a vê-lo satirizando homens nada românticos em seu perfil nas redes sociais. 'Como Seduzir Sua Esposa' é quase um guia de como reinventar o casamento, manter ativo o interesse na relação e desconstruir maus hábitos e costumes.
"Acho que é muito importante a gente não perder essa vontade de querer o tempo inteiro estar conquistando a atenção do outro, estar surpreendendo. Tudo isso com uma dose carregada de humor, com o intuito de fazer florescer uma safra de homens e mulheres mais engajados no autocuidado familiar", justifica o ator, em entrevista ao Terra.
Júlio Rocha reconhece que não tem conhecimento técnico e acadêmico para ensinar as pessoas como se comportarem, mas aposta que sua experiência com Karoline Kleine, com quem está em um relacionamento desde 2017, é o bastante para aconselhar o público sobre a vida conjugal.
A referência do ator é também o relacionamento de seus pais.
"Eu sempre via o meu pai cuidando da minha mãe com muito carinho, com muita sensibilidade. Assim, eles tinham brigas, tinham os conflitos normais de casal, mas ele sempre valorizou muito a minha mãe", acrescenta.
'Sexo na gravidez é extramamente importante'
Se, por um lado, algumas pessoas correm da paternidade, Júlio Rocha se vê no caminho oposto. Na expectativa para a chegada de seu terceiro filho, a primeira mulher, ele se diz mais animado do que nunca. E nem mesmo o bebê ainda na barriga o impede de aproveitar momentos de intimidade com a esposa.
"É uma obrigação, é extremamente importante. Eu me questionava sobre isso porque tem um bebê ali. Pensava: 'Como vou fazer sexo? Será que não posso ser caloroso?'. Mas após ouvir os médicos, soube que era até recomendado. Na primeira vez, você mete o negócio [pênis] ali receoso e parece até que ouve o coração do bebê bater ali dentro. A única diferença agora é que tenho dois filhos, então, a dinâmica para fazer acontecer é mais trabalhosa, tem que cuidar para eles estarem na cama e não nos pegar no flagra", conta.
Às vésperas da menina nascer, Júlio Rocha se diz descrente sobre a existência do machismo, de modo que não o encara como problema na criação da filha. Para ele, o maior problema é a hipocrisia.
"As maiores pautas com meus filhos são a transparência e a liberdade. Pretendo prover isso a eles. Além disso, quero prepará-los para a hipocrisia. Infelizmente, se puxarmos dados, é capaz de encontrar uma mulher dividindo cena com um homem e ganhando menos que ele… Isso em lugares que pregam igualdade. Para mim, é o maior problema", lamenta.
"Tinha necessidade de chamar atenção"
Quem acompanha Júlio Rocha nas redes sociais certamente desconhece suas dores. O homem sensível, que inspirou conteúdos virais e escreveu um livro sobre relações familiares, foi forjado por um passado de adversidades. Nem ele mesmo costuma comentar o passado, pois rejeita o que entende por "vitimização" - no vocabulário e no estilo de vida.
Apesar de a comida nunca ter lhe faltado à mesa, Júlio cresceu ao lado do irmão José, três anos mais velho e com deficiência física decorrente da Distrofia Muscular. Com o tempo, ele ficou cada vez mais dependente dos pais, o que resultou em menos atenção ao caçula, uma atenção que ele reconhece que fez falta.
"Eu sentia que o meu irmão tinha mais atenção e, por isso, cresci querendo chamar atenção. Eu criava situações, histórias. Além disso, eu era hiperativo, então tudo que eu começava [cursos] abandonava. Só me encontrei, mesmo, por volta dos 14 a 15 anos, quando passei com uma psicóloga e ela indicou o teatro. Foi paixão à primeira vista. É chato, mas tudo isso ajudou a desenvolver meu espírito artístico", relembra.
A vida com o irmão PCD lhe deixou a mensagem de resiliência. Ele lembra que, durante uma viagem à praia, a família foi alvo de preconceito. Ao chegarem no prédio onde iriam se hospedar, um senhor os abordou e disse: "Carrinho apenas pelo elevador de serviço". O tal "carrinho" ao qual se referia o homem era a cadeira de rodas de José.
"Na hora meu irmão começou a chorar; minha mãe ficou nervosa, começou a bater boca, mas isso não nos fez vítima. Pegamos aquela intolerância e nos transformarmos em pessoas melhores para lidar com isso", acrescenta.
José morreu em 1992, quando tinha 16 anos. A ferida, decorrente da perda precoce do irmão, só foi curada anos depois, quando canalizou sua energia para o teatro. Foi nessa época que ele se dedicou às artes: aprendeu dança e explorou sua vocação para a pintura.
O bullying e a a imagem distorcida
Durante a conversa sobre o passado, Júlio Rocha menciona, reiteradas vezes, que não era bonito ou não se sentia confortável com sua aparência. Não havia lamento nas lembranças, mas indicavam a existência de alguma dor. O bullying foi parte da sua infância. Segundo afirma, ele era apenas "cabelo e dentes".
Romântico desde cedo, Júlio Rocha não era o favorito das meninas. O conceito de beleza a respeito de si mesmo mudou quando passou a se tornar figura conhecida nas novelas da Globo. De acordo com o ator, a televisão faz bem para o ego.
Em 2007, quando integrava o elenco fixo de 'Duas Caras', ele começou a ser desejado pelo público e ganhou o título de 'galã' na grande mídia. Até hoje ele assume que lida de forma paradoxal com esse rótulo.
"Eu nunca acreditei muito nisso [de ser galã], mas sempre tirei proveito. A gente dorme e acorda com a gente todo dia, sabemos a verdade [sobre nossa beleza]. Mas quem não gosta de um elogio? Faz bem para o ego, para o sorriso, para tudo", admite.