Quando Fernanda Montenegro se projetou no exterior com ‘Central do Brasil’, em 1998, vencendo prêmios importantes e sendo indicada ao Oscar, imaginou-se no Brasil que ela iniciaria uma carreira internacional.
A atriz, então com 68 anos, recebeu vários convites para filmes e produções de TV nos Estados Unidos. O problema era o perfil das personagens: sempre latinas estereotipadas sob o olhar dos roteiristas estrangeiros.
“... o lugar no qual cabe uma latino-americana em um filme americano”, disse a veterana à agência Efe, em 2009, criticando a desvalorização dos povos latinos em Hollywood.
Nesses 28 anos desde a consagração de ‘Central do Brasil’, muita coisa mudou. A indústria cultural norte-americana está mais inclusiva, porém, atores latinos em geral ainda enfrentam dificuldade de conseguir protagonismo sem recorrer a caricaturas.
A colombiana Sofia Vergara, por exemplo, se tornou uma estrela com o seriado ‘Modern Family’ ao reforçar as características que um norte-americano espera de uma latina: sensualidade à flor da pele, humor brejeiro e certa extravagância.
Destaque no audiovisual ‘made in USA’ a partir da década de 1980, Sonia Braga também precisou se submeter a papéis padronizados ao gosto dos gringos. Em ‘Sex And The City’, viveu uma artista plástica brasileira que ensinava Samantha (Kim Cattrall) a fazer sexo oral entre mulheres, enfatizando a hipersexualização das mulheres abaixo do Equador.
Alçada ao estrelato com 'Ainda Estou Aqui', Fernanda Torres terá de avaliar com cuidado as ofertas de trabalho. A tentação de entrar para a TV e o cinema norte-americanos será grande, mas não pode ser maior do que a coerência nas escolhas.
Sua bela carreira não precisa de papéis a serviço do reforço de preconceitos culturais. Dona Fernanda Montenegro agiu certo ao recusar o deslumbramento e não cair na armadilha.