Em junho de 2020, a morte de Pedro Lima repercutiu internacionalmente. Até quem não conhecia o trabalho do ator se surpreendeu com sua decisão de dar fim à própria vida. O corpo do artista moçambicano radicado em Lisboa foi encontrado junto às pedras de uma praia de Cascais. A perícia concluiu que ele se golpeou no pescoço e no abdômen e depois se jogou ao mar. Tinha 49 anos e duas décadas de carreira na TV portuguesa. Deixou mulher e cinco filhos.
Depois da tragédia, parentes, amigos e fãs quiseram entender sua motivação ao suicídio. Descobriu-se que o veterano enfrentava em silêncio forte depressão. A redução de seu salário por conta da pandemia de covid-19 o deixou inseguro em relação ao sustento da família. Manifestou temor pelo futuro profissional e a falta de perspectivas.
Publicamente e até entre pessoas próximas, Pedro Lima não demonstrava estar em crise pessoal. Vivia sorridente nos estúdios do canal TVI, dava entrevistas com entusiasmo, acompanhava entusiasmado a construção de uma nova casa, surfava sempre que possível. Contudo, a aparente felicidade era mero disfarce para os sentimentos sombrios que o perturbavam. Apesar do tratamento psiquiátrico, sucumbiu.
Alguns meses depois de sua morte, o filho mais velho, João Francisco, decidiu contrapor o luto com trabalho social. Tornou-se divulgador de campanhas de prevenção ao suicídio e de incentivo aos cuidados com a saúde mental. No início de janeiro, o estudante de 21 anos apareceu pela primeira vez diante das câmeras de um programa de TV, na SIC, emissora parceira da Globo em Portugal.
“É um choque, é um drama muito forte. Se eu estou bem? Não estou, como é óbvio. E sinto-me bem em não estar”, disse à apresentadora Júlia Pinheiro. “Tenho um sentimento de falta muito grande.” O rapaz relatou o comportamento do pai às vésperas do suicídio. “Ele partilhava comigo. Dizia que se sentia triste, que estava preocupado, desanimado.”
Os sinais não foram suficientemente explícitos a ponto de alertar a família e os amigos. Todos foram surpreendidos com o ato radical de Pedro Lima. Superado o impacto inicial, João Francisco retoma a vida com o suporte de psicoterapia. “Faço questão de, quando estou com as pessoas à minha volta, dizer que tenho consulta com a psicóloga. Faço questão de verbalizar esta ação, no sentido de a normalizar.”
No Brasil, 75% dos casos de suicídio são de homens. Na maioria das vezes, a cultura do machismo dificulta um pedido de socorro. O CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece apoio emocional e prevenção do suicídio. Atende voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Ligação gratuita pelo 188. Unidades do SUS orientam a respeito de tratamento da saúde mental.
Pedro Lima nunca trabalhou no Brasil, mas era admirador da teledramaturgia feita aqui e cultivava amizade com atores brasileiros. Em uma rede social, tinha fotos ao lado de alguns — Rodrigo Santoro, Camila Pitanga e Mariana Ximenes entre eles. Na última entrevista, feita uma semana antes de morrer, o ator disse que não buscava uma “vida perfeita” e sim uma “vida normal e feliz”. Afirmou ainda ser um homem comum, com falhas. “Não quero nem tento ser um exemplo para ninguém.”