"Olá, internet!". É assim que Fernanda Catania, de 34 anos, mais conhecida como Foquinha, costuma saudar os mais de 2 milhões de inscritos que possui em seu canal no YouTube. Paulistana da gema, ela é um dos maiores nomes do jornalismo independente atual: são mais de 918 mil fãs no Instagram e 381 mil do TikTok.
Youtuber desde 2010, antes mesmo da popularização do termo, Foquinha conquistou seu espaço no universo digital e se tornou influenciadora e exemplo de empreendedorismo. Mas o sucesso não é sinônimo de autoconfiança.
"Eu me autossaboto o tempo inteiro. Penso que não vou concretizar algo; nas incertezas; achando que não vou conseguir realizar alguma tarefa, achando que as coisas são muito para mim. É muito bom poder trabalhar para você mesma, mas tem esse bando de inseguranças e pressões juntas. Hoje, me enxergo como empreendedora, mas nem sempre foi assim. Demorei para entender", revela, em entrevista ao Terra.
Carro-chefe de Foquinha atualmente, a produção de conteúdo online nunca foi, de fato, seu sonho. O que ela quer mesmo é ter seu próprio programa de televisão.
Até mesmo por isso, decidiu cursar jornalismo na PUC-SP, trabalhou em alguns veículos de comunicação, e viu no Youtube uma ponte para realizar a si mesma de alguma forma. A jornalista garante que pretende encontrar um tempinho para atingir esse objetivo, em meio aos dois vídeos semanais que libera na plataforma de vídeos, os episódios do podcast Donos da Razão e trabalhos que fecha por fora.
"Tenho muita coisa para realizar. Comecei meu canal querendo fazer algo na TV e é algo que eu ainda tenho muita vontade. Apesar de ter feito participações, quero um programa meu. Essa vontade é muito forte, algo na linha de talk-show ou documental. Independentemente do formato, algo com a minha cara e diferente do que temos hoje", descreve.
Convivência com uma 'impostora'
Como jornalista independente, o nome de Foquinha se tornou sua maior fonte de renda ao longo da carreira. No entanto, ao mesmo tempo que aumentava o prestígio por seu trabalho, crescia também o medo de falhar e de ser exposta, ambos sintomas da Síndrome de Impostora, que tem como principal característica a autossabotagem.
Foquinha se orgulha de ter começado do zero e hoje viver com estabilidade. Desde que passou investir mais em si mesma - há "pouco tempo" - contratou mais pessoas, montou um "QG" para gravar e tratar de negócios.
"Hoje sou mais segura do que já fui, mas ainda sou muito insegura. Apesar de ter estabilidade, tenho medos. Eu construí [meu canal]; o que tenho hoje eu semeei do zero. Não ganhei, não nasci rica, nem herdeira [...] e como muito depende de mim, sempre dá aquele medo de não conseguir fazer o trabalho direito, de não ter mais [a empresa]", admite. "Essa falta de confiança é algo que trabalho muito e não sei se algum dia conseguirei ser 100% segura, ainda mais nesse meio [digital] que tem sempre tanta coisa acontecendo".
"Demorei para me colocar em primeiro lugar"
Se hoje tem consciência de suas questões emocionais, até o ano passado ela não dava muita atenção à saúde mental. O objetivo era prosperar, então Foquinha emendou trabalhos e dedicou os últimos 10 anos à produção de conteúdo para a internet.
Em dezembro de 2021, ela encarou um episódio de burnout. Na época, lembra, ela tinha três trabalhos de grande porte e extrema importância na mesma semana. Um deles foi a apresentação do Prêmio Multishow. O estresse foi tanto que sua coluna travou.
"Era uma semana muito intensa e decisiva do meu ano. Passei por tanto estresse que travei a coluna. Tive que tomar uma injeção no posto médico do Prêmio e me conter para terminar o trabalho. Depois disso, cancelei minha agenda e entrei em 2022 com outra cabeça, percebendo que demorei para me cuidar, para me colocar em primeiro lugar", lembra.
O estresse continua sendo companhia frequente na sua rotina, mas ela desenvolveu um "passo a passo" para contorná-lo. Quando está sob muita pressão, compartilha tarefas com sua equipe, dedica algum tempo para respiração e meditação. A psicoterapia tem sido sua aliada nessa jornada.
O episódio de burnout mudou também a maneira como a jornalista lida com as críticas e com suas entregas para as redes sociais. Segundo ela, que tinha o hábito de passar por cima de seus problemas pessoais para gravar vídeos e evitar críticas, tomou consciência de que suprimir seus sentimentos não seria saudável.
"Às vezes eu fazia um esforço enorme para produzir, mesmo mal. Quem me acompanha nota quando não estou bem, porém tem gente que faz críticas e não ao meu trabalho, a mim mesma. Hoje, entendo que às vezes é melhor deixar de fazer algo. Não preciso passar por isso, por cima do que sinto", compartilha.