Quem acompanha a paciência imperturbável e a fala mansa de Fernando Gabeira na GloboNews não imagina o furor que ele provocava no Brasil em plena ditadura.
Mineiro radicado no Rio, atuava como repórter e militante de um grupo revolucionário que promovia luta armada contra o regime. Em 1969, participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick.
No ano seguinte, foi baleado nas costas ao fugir de policiais em São Paulo. Preso, acabou libertado e partiu para o exílio. Viveu na Argélia, Itália, Suécia e no Chile.
Voltou ao Brasil em 1979, beneficiado pela Lei da Anistia. Retomou a carreira no jornalismo. Lançou o livro ‘O Que É Isso Companheiro?’, narrando sua trajetória no ativismo.
Best-seller, a obra serviu de base para o roteiro do longa homônimo, dirigido por Bruno Barreto, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1998.
No início da década de 1980, Gabeira horrorizou os militares no poder e a sociedade conservadora com seu despudor. Certa vez, ele queria ir à praia e não tinha sunga.
Pegou uma tanga cavada no armário de sua prima, a também jornalista Leda Nagle, que na época trabalhava na Globo. A ousadia gerou manchetes e virou marca registrada do ex-guerrilheiro.
Tempos depois, comprou outra tanga, minúscula e fina nas laterais, semelhante a um biquíni. Era a atração das areias escaldantes da zona sul carioca.
A vestimenta e o comportamento de Gabeira se tornaram símbolos do comportamento liberal naquele período. Havia uma busca por liberdade sexual e a desconstrução dos estereótipos masculino e feminino.
“No exílio, estava acostumado a passar férias em praias de nudismo na Grécia. Não imaginei que a tanga fosse se transformar em uma coisa escandalosa”, disse a ‘O Globo’.
Ao entrar para a política partidária (primeiramente no PT, depois no PV), o jornalista passou a defender a causa LGBT+. Apoiou candidaturas de gays e lésbicas. Liderou no Congresso o movimento em defesa do meio ambiente.
Cumpriu 4 mandatos como deputado federal, foi candidato a prefeito do Rio, governador do RJ e presidente da República. Em 2013, entrou para a GloboNews.
Tem seu próprio programa sazonal de reportagens sobre o Brasil profundo. Quase diariamente aparece como comentarista de política. Aos 81 anos, é tratado pelos colegas como um baluarte do jornalismo.
Suas gafes fazem sucesso nas redes sociais. Já foi flagrado cochilando ao vivo, sendo atrapalhado por seu gato e derrubando a câmera. Impassível, ele ri de si mesmo.