“A verdadeira caridade é impalpável como a luz e invisível como o perfume: dá o calor, dá o aroma, mas não se deixa tocar nem ver.”
A frase do escritor e imortal da ABL Coelho Neto serve de lição a vários famosos acostumados a dar com uma mão enquanto com a outra filma a cena da boa ação.
Vejamos o recente caso de Jojo Todynho. A influenciadora está sob críticas nas redes sociais por divulgar a imagem de prestadores de serviços de sua casa com mini panetones e notas de R$ 100 presenteados por ela.
A maioria enxergou Jojo como uma patroa avarenta com os funcionários, já que ela mostra uma vida luxuosa. Eis a primeira controvérsia: o público foi (mal) acostumado a testemunhar a ostentação das celebridades que se vendem como milionárias.
Com a expectativa nas alturas, fica realmente difícil aceitar um gesto apenas simbólico por meio de um panetone pequeno e uma quantia considerada mixaria perto da gastança exibida por essas personalidades midiáticas. Espera-se sempre mais.
Nota-se uma deturpação. A solidariedade básica, feita mais pelo valor do coração, não serve: o tribunal da internet exige atitudes grandiosas, como os vistosos ‘bolos’ de dinheiro distribuídos por Deolane Bezerra a seus empregados. Um deles chegou a receber R$ 50 mil.
Estamos a perder a noção da grandiosidade dos gestos simples e discretos. Tristes tempos.
A outra questão complicada da ação de Jojo (assim como a de Deolane e tantos outros) é divulgar o que poderia ser mantido em sigilo. Transmite a impressão de que a generosidade inexiste sem o marketing para autopromoção.
É flagrante o descontrole de muitos famosos: não conseguem fazer nada – do banal ao relevante – sem postar aos milhões de seguidores e, consequentemente, gerar notas na imprensa on-line. Depois ainda ousam reclamar da invasão de privacidade.
Quem tudo revela nas redes sociais concede ao outro o direito de opinar. E, como neste caso protagonizado por Jojo, o que poderia ser positivo ganha contorno pejorativo. Melhor manter certas coisas longe da câmera do smartphone.
(O blog optou por aplicar um efeito no rosto dos funcionários da influenciadora a fim de preservar a identidade e a imagem deles. Ainda que o uso da foto tenha intuito jornalístico, expô-los seria incoerente diante da análise apresentada no texto.)