A reviravolta na vida de Pedro Aihara renderia um estudo de personagem. Ele foi lançado à fama no início de 2019, quando serviu como porta-voz do Corpo de Bombeiros nas entrevistas sobre o rompimento da barragem de Brumadinho.
Bonito, comunicativo e sob o fetiche da farda, ele ganhou fãs nas redes sociais e espaço privilegiado nos maiores canais de TV, inclusive no líder de audiência, a GloboNews.
Programas populares, a exemplo do ‘Balanço Geral’, da Record, exibiram perfis sobre o jovem militar de 25 anos que virou o rosto mais conhecido da legião de profissionais dedicados à localização de vítimas.
Um momento ficou na memória jornalística: a emoção de Aihara diante das câmeras na manhã de 28 de janeiro, três dias após a calamidade que matou 270 pessoas, ao comentar a angústia da procura pelos corpos. “Podem ter certeza de que estamos trabalhando como se essas pessoas fossem nossas mães e nossos pais”, disse.
O Tenente Aihara ganhou tanta notoriedade na TV e entre os mineiros que foi eleito deputado federal pelo PRD em 2022. Agora, ele ressurge nos telejornais como protagonista de um escândalo: recebeu o rótulo de “campeão dos gastos em alimentação” na Câmara, segundo matéria do ‘Estadão’.
Teria sido reembolsado por gastos com comida caras e bebidas alcoólicas, no Brasil e em viagens ao exterior. O parlamentar alegou “erro de lançamento” das despesas e se colocou como vítima de “sensacionalismo, distorção de informações, manipulação de dados e afirmações inverídicas, configurando uma clara ação de perseguição política”.
O estrago à sua imagem pública dificilmente será revertido. A mídia em geral – especialmente a TV – possui a questionável dinâmica de construir heróis e depois destruí-los, independentemente de culpa ou inocência.
A teledramaturgia já mostrou esse processo. Em ‘O Salvador da Pátria’, de 1989, Sassá Mutema (Lima Duarte) era o baluarte da honestidade e das boas intenções. Foi manipulado por grupos políticos e se tornou prefeito de uma cidade. Houve impressionante mudança física, emocional e comportamental do personagem. Acabou alvo de denúncias e despertou a fúria de eleitores. A imprensa que o elevou ao status de ídolo popular logo o crucificou para ganhar audiência e atender a interesses particulares.
Já testemunhamos a desgraça de várias figuras da TV após a migração para a política. O excesso de expectativa com os eleitos graças à fama pode ser proporcional à decepção. Nas eleições municipais deste ano, vários candidatos usarão a visibilidade que têm na televisão para conquistar votos. É um ciclo que se repete e quase sempre funciona – para o bem e o mal.