Ignorada na morte: ausências no velório de Elizângela mostram lado cruel da fama

O banimento da atriz adepta do bolsonarismo e do movimento antivacina ressalta a fragilidade das relações nos bastidores da TV

8 nov 2023 - 14h39

“Os primeiros a me abandonar foram aqueles que me chamavam de amigo.” Essa frase dita na série ‘Riverdale’ poderia ter sido verbalizada por Elizângela. 

No velório da atriz e cantora não apareceu nenhum colega de televisão. Nenhum. Em mais de 50 anos de carreira, ela trabalhou com centenas de outros artistas.  

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A completa ausência de celebridades frustrou a imprensa no cemitério e ressaltou a precariedade das relações no universo da fama. 

Elizângela sempre foi vista como uma colega agradável nos bastidores. Por que ninguém apareceu para se despedir diante de seu caixão? 

A política explica. Ou melhor, o radicalismo. De um lado, a atriz assumiu posições polêmicas, como rejeitar a vacinação contra a covid-19. Chegou a dizer que a imposição do imunizante seria como um estupro. 

Assumidamente de direita e bolsonarista, ela se manteve ao lado dos ‘patriotas’ mesmo após a eleição de Lula. Apoiou manifestações de rua que contestaram o resultado das urnas e a atuação do STF. 

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Essa militância teve efeito repelente: afastou os colegas da Globo e a classe artística em geral. Ainda bem que a filha única da atriz, Marcelle, contou com o abraço de alguns amigos anônimos ao se despedir da mãe. 

Os Estúdios Globo, empresa onde a artista trabalhou em várias novelas de sucesso, enviaram uma coroa de flores. O ex-vice-presidente da emissora, Boni, e sua mulher, Lu de Oliveira, mandaram outra. 

Gestos nobres de quem separou a cidadã-ativista dos últimos anos e a artista que ao longo de décadas deu relevante contribuição ao canal, onde estreou ainda criança, em 1966. 

Não se trata, aqui, de passar pano a negacionistas e extremistas. O intuito é estimular uma reflexão sobre gratidão e ingratidão, amizades verdadeiras e falsas, aplausos e abandono. 

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Esse caso não foi uma exceção. Incontáveis outros atores, apresentadores e cantores morreram esquecidos e não receberam homenagens da própria classe por outros motivos, como a perda de status e dinheiro. 

A quem interessar, a missa de Sétimo Dia em memória de Elizângela acontecerá nesta quinta-feira, dia 9, a partir das 20h, na Paróquia São José da Lagoa, na zona sul do Rio.

Elizângela morreu aos 68 anos, de parada cardiorrespiratória: estava afastada da TV desde 2019
Elizângela morreu aos 68 anos, de parada cardiorrespiratória: estava afastada da TV desde 2019
Foto: Reprodução
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