Todo ator que faz televisão deseja experimentar o sabor da fama. Seja como validação de seu talento ou mera vaidade.
Alguns geram manchetes, mas por motivo indesejado. Ganham a fama póstuma provocada por uma morte dramática.
Jeff Machado acaba de entrar para a crônica policial das celebridades. Virou notícia nos telejornais não por um trabalho relevante, e sim pelo desaparecimento misterioso e o desfecho dramático do caso.
Seu corpo foi localizado em um baú que pertencia a ele, enterrado a dois metros de profundidade, sob concreto, quatro meses depois do sumiço.
Tudo indica um assassinato cometido por alguém que se passava por amigo e tirou dinheiro do artista com a falsa promessa de colocá-lo no elenco principal de alguma novela.
Iludido pelo sonho de atingir o estrelato na TV, Jeff caiu no golpe que já fez tantas vítimas. Agora, será lembrado apenas por uma participação em ‘Reis’, da Record, e a cobertura do crime. Morreu sem conseguir o sucesso desejado.
Em setembro de 2021, o noticiário destacou a morte de Luiz Carlos Araújo, visto como coadjuvante em novelas do SBT como ‘Carinha de Anjo’ e ‘Cúmplices de um Resgate’.
O ator foi encontrado sem vida em seu apartamento, no centro de São Paulo, com a cabeça coberta por um saco plástico.
As estranhas circunstâncias produziram a suspeita de homicídio e até da ação de um hipotético serial killer de homossexuais.
O artista com sólida formação acadêmica e dedicado às artes por décadas não teve o desejado reconhecimento público em vida. Tornou-se famoso da pior maneira.
Sua batalha pela carreira foi ofuscada pelas especulações a respeito da morte precoce e inicialmente incompreensível.
O enigma cercado de boatos terminou após meses de investigação. “A associação de antidepressivos, cocaína e álcool, com consequente rebaixamento do nível de consciência, associada ao confinamento foram as causas da morte (acidental)”, apontou o laudo do IML (Instituto Médico Legal).
Outro episódio de lamentável visibilidade tétrica aconteceu com Rafael Miguel, o ator de ‘Chiquititas’ assassinado com o pai e a mãe.
O triplo homicídio cometido pelo pai da namorada dele fez o jovem artista ser relembrado na mídia depois de quatro anos sem papel importante na teledramaturgia, período em que a imprensa o ignorou.
Programas policialescos exploraram a tragédia até a exaustão. A caçada ao suspeito – preso somente em maio de 2022 – produziu semanas de cobertura até que a audiência começou a cair e, como sempre acontece, a pauta foi substituída por outros dramas sangrentos.
A imprensa em geral – e incluo este blog na crítica – costuma impor uma overdose de notícias sobre o grupo mais badalado de artistas (geralmente os que estão na Globo ou em evidência nas redes sociais).
Aqueles vistos como secundários, a exemplo dos citados Jeff Machado, Luiz Carlos Araújo e Rafael Miguel, não conseguem matérias para projetar seu trabalho. Não são considerados engajadores.
Injustamente, a imagem desses coadjuvantes quase sempre se populariza apenas com escândalos, falhas graves ou uma morte impactante.
Explícita distorção dessa mídia dependente de ‘likes’ e pontos de Ibope e de um público ávido por histórias macabras para se distrair. Parafraseando Hamlet, há algo de pobre no reino da imprensa brasileira.