Muita gente via Jô Soares como esnobe. Ele mesmo se dizia “exibido”. Gostava de ostentar a vasta cultura, o domínio de idiomas, as roupas impecáveis sob medida e a capacidade de opinar sobre tudo.
Por trás do personagem midiático que não agradava a todos havia um homem de generosidade ímpar. Ele distribuía ajuda financeira e presentes sem se autopromover. Atitude de alguém realmente benevolente.
Exemplo disso foram os envelopes com dinheiro entregues a Ricardo Martins, fotógrafo que trabalhou por mais de 30 anos com o apresentador. A ajuda financeira foi fundamental para custear o tratamento contra um câncer, quando o profissional precisou se afastar das funções.
“Não me impressionei com ele deixando parte do que tinha para os funcionários. Para quem trabalhava e estava acostumado a conviver com o Jô Soares, já era de se esperar”, disse Martins ao ‘Domingo Espetacular’ da Record TV.
O ex-colaborador se referiu à inclusão de três funcionários de confiança – duas empregadas domésticas e um motorista – na partilha da herança. Sabe-se que o apresentador ajudou financeiramente outras pessoas que trabalharam em seu apartamento, inclusive duas domésticas já falecidas.
Certa vez, Jô presenteou o diretor de seu programa, Willem van Weerelt, com um relógio Rolex Submariner. O cobiçado modelo da marca suíça custa em torno de 8 mil euros, cerca de R$ 45 mil. Pouco depois, Willem foi roubado. Ao ver a tristeza do amigo, o apresentador comprou outro relógio igual para ele.
Mais um momento de generosidade aconteceu em um aniversário de Flávia Pedras, com quem Jô foi casado por 15 anos. Ele a surpreendeu com um enorme embrulho. Era um Escort zero Km. O apresentador ainda colocou ‘Parabéns pra Você’ para tocar no rádio e serviu champanhe à amada.
Dificilmente alguém daria um objeto exclusivo que tem em casa para alguém. Jô fazia isso. Em uma visita ao apartamento dele, a jornalista Mara Luquet ficou hipnotizada diante de uma tela.
Ao notar, o apresentador revelou que ele mesmo havia pintado o quadro – um desenho com 20 lâmpadas, sendo uma delas em sentido contrário às demais. Dias depois, Mara recebeu um pacote em casa. Era a obra de arte de que ela tanto havia gostado.
Situação semelhante viveu a jornalista Keila Jimenez. No ‘Hoje em Dia’, da Record TV, ela contou ter sido flagrada por Jô quando folheava um livro da biblioteca dele, com 5 mil livros, antes de iniciar uma entrevista.
Ao fim do encontro, o artista a questionou: “Não vai levar o livro?” A repórter ganhou a versão em espanhol do conto ‘A Incrível e Triste História da Cândida Erêndira e sua avó Desalmada’, do escritor colombiano e Nobel de Literatura Gabriel García Márquez.
Na TV, ao saber que um integrante de sua produção demorava horas no transporte público, Jô deu a ele um carro para que chegasse menos cansado ao trabalho. Quantos chefes fazem isso pelo bem-estar de um funcionário?
Alguns famosos também experimentaram a cortesia de José Eugênio Soares, que nasceu em família rica e, na adolescência, viu seu pai perder tudo e a família ir morar de favor em um quarto.
O cantor Luciano Camargo ganhou um belo relógio. “Para marcar as horas felizes da sua vida”, disse Jô. Ao ser entrevistada em seu talk show, Mônica Iozzi disse a ele que iria convidá-lo para ser padrinho de casamento a fim de ganhar um bom presente.
O apresentador perguntou o que ela queria. “Uma smart TV”, respondeu a atriz, que nem tinha noivo na ocasião. Pouco depois, recebeu o aparelho desejado em casa.
Em rara entrevista, em 2011, Flávia Pedras comentou a respeito do prazer que Jô Soares sentia em presentear pessoas que amava e ajudar a quem precisava. “Generosidade talvez seja a descrição mais sintética quando se fala do Jô”, disse. “Mimar as pessoas faz parte de sua personalidade.”
Revelado somente após a morte dele, o altruísmo de Jô Soares se soma às tantas outras qualidades do apresentador consagrado e do homem afetuoso por trás da fama.