Juliana Nehme: Modelo brasileira é impedida de embarcar em voo e acusa companhia aérea de gordofobia

Influenciadora disse estar sendo obrigada a comprar passagens mais caras por ser gorda; ela tenta voltar do Líbano ao Brasil há dois dias

24 nov 2022 - 12h30
(atualizado às 14h32)

Há dois dias, a modelo e influenciadora Juliana Nehme tenta embarcar em uma viagem de volta do Líbano, país onde a mãe nasceu e que sonhava conhecer. Por cinco anos, ela economizou para conseguir arcar com os custos da viagem, mas, ao tentar voltar ao Brasil, foi impedida por ser gorda.

Juliana Nehme foi impedida de embarcar em um voo por gordofobia.
Juliana Nehme foi impedida de embarcar em um voo por gordofobia.
Foto: Instagram/@ juliananehme / Estadão

O relato foi compartilhado por ela através de stories do Instagram. Segundo a modelo, a companhia aérea Qatar Airways, por onde comprou o voo da volta, queria obrigá-la a comprar uma passagem na classe executiva.

Ela disse ter adquirido a passagem por U$S 1 mil (cerca de R$ 5 mil). O preço da passagem executiva é U$S 3 mil (cerca de R$ 15 mil), um valor que a influenciadora não possui.

"Chegando na hora de fazer o check-in, uma aeromoça da Qatar chamou minha mãe e disse a ela que eu não era bem-vinda para embarcar porque sou gorda", disse Juliana. Ela, a mãe, a irmã e o sobrinho tiveram as passagens retidas.

A influenciadora ainda alegou ter sido ameaçada e empurrada por uma funcionária ao tentar registrar a situação. Após duas horas tentando negociar com a companhia, a irmã e o sobrinho conseguiram embarcar, mas ela e a mãe continuam no país.

"Fui extremamente humilhada na frente de todas as pessoas que estavam no aeroporto. Tudo isso porque sou gorda", escreveu.

'Nunca imaginei passar pelo que estou passando'

Após a repercussão do caso, Juliana fez uma série de stories contando sobre a gordofobia que sofreu no país e de pessoas na internet. Segundo ela, até pessoas próximas a criticaram por fazer uma viagem longa.

"As pessoas olham para mim como se eu fosse um monstro. A cada dia mais, parece que a gente está errado. Muitas pessoas sofrem isso. Isso não é uma brincadeira. Ser gordo no Brasil ou no mundo não é uma brincadeira. Eu não quero que ninguém passe por isso", lamentou a modelo.

Ela disse que chegou a desistir de uma viagem à Capadócia, mas contou não ter deixado de viajar ao Líbano por ser o sonho dela e da mãe.

Juliana agora conta com o apoio do projeto Gorda na Lei, que busca advogados que atuam com direito internacional na região do Líbano para tomar as providências jurídicas cabíveis.

Ministério das Relações Exteriores alega estar dando suporte a Juliana Nehme

Em comunicado enviado ao Estadão, o Ministério das Relações Exteriores informou que a Embaixada do Brasil em Beirute está em contato com a Embaixada Nacional para prestar assistência a Juliana conforme os tratados internacionais vigentes.

Nesta quinta-feira, 24, a modelo confirmou que está recebendo suporte do Consulado e do embaixador do Brasil no país e está sendo ajudada "de todas as formas possíveis".

Segundo ela, a Qatar Airways ainda não abriu mão da decisão de obrigar a influenciadora a comprar uma passagem mais cara. A companhia exige que ela faça a compra de duas passagens para ela e mais uma para a mãe, além da multa por não ter embarcado no dia do voo.

Leia a nota do Itamaraty na íntegra:

"O Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada do Brasil em Beirute, está em contato com a nacional e presta a assistência cabível à cidadã brasileira, em conformidade com os tratados internacionais vigentes.

Em observância ao direito à privacidade e ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, informações detalhadas poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros."

Qatar Airways informou que Juliana irá embarcar em outro voo nesta quinta-feira

Em nota enviada ao Estadão, a companhia aérea Qatar Airways informou que o voo de Juliana foi remarcado para a noite desta quinta-feira, 24, no Líbano. Segundo a companhia, todos os passageiros sempre foram tratados "com respeito e dignidade".

A empresa alegou que a modelo foi "extremamente agressiva com a equipe" após um dos acompanhantes dela não ter apresentado a documentação de PCR necessária para a entrada no Brasil.

Leia a declaração na íntegra:

"A Qatar Airways trata todos os passageiros com respeito e dignidade, de acordo com as práticas da indústria e de forma similar à maioria das companhias aéreas. Qualquer pessoa que impeça o espaço de outro passageiro e não consiga prender os cintos de segurança ou abaixar os apoios de braço pode ser obrigada a comprar um assento adicional, tanto por questões de segurança quanto pelo conforto e a segurança dos outros passageiros.

A passageira em questão foi, inicialmente, extremamente rude e agressiva com a equipe de check-in no Aeroporto de Beirute quando um de seus acompanhantes não apresentou a documentação PCR necessária para entrada no Brasil. Como resultado, a segurança do aeroporto foi solicitada a intervir, pois funcionários e passageiros estavam extremamente preocupados com seu comportamento.

Podemos confirmar que o voo da passageira foi remarcado para esta noite no Líbano."

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

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Juliana Nehme tenta voltar ao Brasil há dois dias.
Foto: Instagram/@juliananehme / Estadão
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