O motorista inocentado de culpa pelo atropelamento do ator Kayky Britto tem esticado a história, desnecessariamente. Em entrevista ao IG, Diones Coelho da Silva fez reclamações.
Mostrou-se chateado por não ter sido citado nominalmente no primeiro vídeo feito pelo artista após a alta hospitalar e pela falta de respostas a suas tentativas de contato on-line. “Sinto algo muito frio da parte de lá”, disse.
Diones relatou ainda um “trauma” que seria supostamente curado com um abraço em Kayky. “Tirar algo de dentro de mim”, explica.
O motorista talvez tenha desenvolvido estresse pós-traumático, distúrbio comum a quem vivencia uma situação terrível. Um abraço não resolveria. Precisa de psicoterapia e, às vezes, medicação.
Ele erra ao expor a si e a Kayky na imprensa. O ator e sua família não têm obrigação de manter contato ou mesmo de manifestar gratidão – aliás, atitude tomada quando o motorista foi chamado de “anjo”.
Comoção à parte, Diones apenas cumpriu a obrigação prevista em lei no caso de um atropelamento: parar o veículo, acionar o socorro à vítima, aguardar a autoridade policial e prestar esclarecimentos.
Parte da mídia se equivocou ao tratá-lo como herói. Estamos tão acostumados com maus exemplos no Brasil que um comportamento correto suscita bajulação a quem somente fez o que se espera de um cidadão consciente de seus deveres.
O tribunal da internet chegou a propagar que a polícia carioca procurava provas para incriminar Diones. O resultado das perícias mostrou que o procedimento demorou o tempo necessário para esclarecer todos os pontos. A verdade prevaleceu.
Também vítima da fatalidade, Diones acabou recompensado com doação oferecida pela influenciadora Deolane Bezerra e a vaquinha virtual que arrecadou o suficiente para a compra de um carro novo. Então, por que polemizar na mídia a respeito de uma questão que poderia – e deve – ser resolvida em particular?
Após as queixas do motorista na entrevista, os apressados das redes sociais já rotularam Kayky e seus parentes de ingratos e esnobes.
Esse mal-estar não faz bem a nenhum dos envolvidos no caso. Parece mais sensato a todos colocar a vida em primeira marcha, acelerar calmamente e não olhar pelo retrovisor.