Fãs de artistas e torcedores de futebol são ambíguos, portanto, não confiáveis. Deixam-se dominar pela passionalidade. E a paixão, de repente, vai do elixir ao veneno. Da veneração ao ódio.
Uma mão eleva o ídolo ao topo do pedestal. Pouco depois, a outra pode empurrá-lo ao abismo. Neymar vive essa iminência. Há muitas mãos tentando desequilibrá-lo a fim de forçar a queda ao fundo do poço. Inclusive as de alguns jornalistas esportivos.
O jogador tem sido alvo de duras críticas pelo desempenho nos gramados e na vida privada. Apontam recordes negativos na carreira, indisciplina recorrente e o início da temida decadência.
Neymar sempre foi prejudicado pelo excesso de expectativas e as inevitáveis comparações. Pesa a falta do troféu de Melhor do Mundo e uma Copa para chamar de sua, além do rótulo pejorativo de bon vivant.
Alguns comentaristas se comportam como juízes em um tribunal de exceção. Não se contentam com a análise fundamentada. Salivam de entusiasmo ao expor aspectos pessoais do atleta. Ironizam, desdenham, cobram, fazem previsões sombrias.
Ele é confrontado não apenas pelo talento com a bola, mas também pela fama planetária, a fortuna, a agitada vida amorosa e sexual, as amizades com os parças, a relação fria com os próprios jornalistas – estes, exigem atenção especial por se considerarem imprescindíveis.
“O que torna insuportável a vaidade dos outros é que ela colide com a nossa”, escreveu o moralista François La Rochefoucauld na Paris do século 17. Colocar-se como antagonista de Neymar gera uma sensação de (falso) poder.
Nota-se flagrante prazer em atacá-lo com um carrinho por trás, como se despejassem sobre ele as próprias frustrações indisfarçáveis e, ao mesmo tempo, o fizessem de trampolim para a autopromoção.
Incontáveis jornalistas caem na armadilha de se considerar celebridades. Esquecem regras básicas do ofício e se tornam obcecados com a popularidade na TV, nas redes sociais e entre os magnatas dos times. Alimentam-se de migalhas do sucesso alheio.
Chutar o ego do camisa 10 do PSG e da Seleção Brasileira garante repercussão instantânea. Está provado que notícia ruim ‘vende’ bem mais do que manchetes positivas. Para a imprensa dependente da audiência, quanto pior, melhor.
Por isso, há uma torcida gigantesca para ver Neymar triste, cabisbaixo, inseguro, machucado, frustrado, deprimido e derrotado. A psicanálise explica: testemunhar a infelicidade de alguém inalcançável faz muita gente delirar porque assim se sente menos infeliz pela noção de sua irrelevância no mundo.