Dentro do universo feminino, muito se fala a respeito de sororidade, mas há pouco debate sobre outra questão relevante: a rivalidade entre mãe e filha.
Parece ainda ser tabu comentar a relação conflituosa entre duas mulheres que deveriam ser melhores amigas e acabam concorrentes.
Um exemplo disso envolve a empresária mais rica do mundo, a francesa Françoise Bettencourt Meyers, sócia majoritária da companhia de cosméticos L’Oréal.
Ela sofreu por não ter a mesma beleza, elegância e sofisticação da mãe, Liliane, de quem herdou patrimônio avaliado hoje em R$ 520 bilhões.
As comparações – sempre cruéis – começaram quando se tornou uma jovem desinteressada por maquiagem, moda e festas.
Enquanto a mãe se produzia como uma estrela de cinema e frequentava a alta sociedade de Paris, Françoise se vestia com simplicidade, não gostava de cortar o cabelo e preferia ficar em casa lendo e tocando piano a ir em eventos da elite.
Liliane chegou a reclamar da filha publicamente algumas vezes. “Ela foi uma criança fria”, disse a um jornal francês. “É pesada e lenta”, reclamou, segundo a revista ‘Vanity Fair’.
Quando Françoise entrou na Justiça para tentar impedir que a mãe continuasse a fazer doações milionárias a amigos e funcionários, a matriarca reagiu com fúria e desprezo.
“Eu a criei, e agora ela é o oposto de mim”, declarou. “Ela queria ser igual a mim. Mas agora, ela é exatamente o meu oposto.”
Intelectualizada, Françoise negou sentir inveja. “Minha mãe sempre foi linda, sim, mas nunca senti a menor rivalidade”, afirmou.
Apesar de morar a poucos metros de distância, as duas ficaram anos sem se ver e falar. Aproximaram-se apenas quando um juiz declarou Liliane incapaz de administrar seus bens após diagnóstico de Alzheimer.
A grande dama da L’Oréal morreu em setembro de 2017, um mês antes de completar 95 anos. Françoise recebeu a herança e não mudou nada no estilo de vida e na rotina.
Continua a morar no mesmo apartamento, mantém os cabelos longos frisados, veste as roupas de sempre, não usa joias, sai de casa apenas para reuniões de trabalho e eventos beneficentes.
A última entrevista foi há 9 anos. Ela é o que a mãe nunca quis ser: discreta, desapegada e monossilábica. Aos 70 anos, Françoise continua a rejeitar fama, status, ostentação e bajuladores.
Hábil em descrever a futilidade do mundo dos ricos, o escritor Honoré de Balzac fez uma reflexão que cabe como luvas na mulher mais rica do planeta. “Deve-se deixar a vaidade aos que não têm outra coisa para exibir.”