Liliane e André Bettencourt sonhavam com um príncipe encantado para sua única filha, Françoise. Buscavam um rapaz rico e preferencialmente católico. O destino deu uma rasteira no casal.
A jovem herdeira se apaixonou por Jean-Pierre Meyers, judeu neto do rabino Robert Meyers, assassinado por nazistas no campo de concentração de Auschwitz em 1943. Antes de ser capturado, ele ajudou centenas de outros judeus a escapar das tropas de Hitler.
O namoro de Françoise jogou luz sobre o lado sombrio de seu avô, Eugène Schueller, o fundador da L’Oréal. Segundo historiadores, o químico financiou grupos fascistas e era abertamente antissemita.
Consta ter ajudado na sustentação do ‘La Cagoule’, grupo responsável pela perseguição e morte de judeus e refugiados. André Bettencourt, que viria a se tornar marido de Liliane e pai de Françoise, fez parte dessa organização criminosa.
O casal tentou convencer a herdeira a desistir de Jean-Pierre. Por isso, o namoro se arrastou por anos até que a então jovem venceu pelo cansaço e conseguiu permissão para o casamento, realizado em 1984.
Em biografias, reportagens e na série documental ‘A Bilionária, o Mordomo e o Namorado’, da Netflix, fica evidente o preconceito em família. Em certo momento, Liliane pergunta ao advogado se um dos netos dela tem “aparência de judeu”.
Mesmo influenciada por freiras do colégio onde estudou e sob pressão dos pais cristãos, Françoise preferiu criar os dois filhos, Jean-Victor e Nicolas, no judaísmo. Ela própria desenvolveu interesse pela religião e escreveu um livro a respeito.
Formando em Economia, Jean-Pierre acabou sendo convidado a ocupar funções importantes no grupo controlador da L’Oréal. Hoje, é um dos vice-presidentes. Ele e Françoise moram em um prédio comum em um subúrbio tranquilo de Paris. Levam uma vida sem luxo, apesar de a sócia majoritária da maior companhia de cosméticos do planeta possuir patrimônio equivalente a R$ 520 bilhões.