A morte da professora de economia política e ex-deputada federal Maria da Conceição Tavares, aos 94 anos, traz à memória dois momentos relevantes protagonizados por ela na televisão.
O primeiro aconteceu em março de 1986, na Globo, quando chorou ao vivo ao comentar sobre a esperança trazida à época pelo Plano Cruzado, a precariedade da economia brasileira e a má distribuição de renda no país.
Racional e emotiva ao mesmo tempo, a pensadora de esquerda, nascida em Portugal e naturalizada brasileira, recorria à mídia para defender com unhas e dentes as políticas públicas de redução da desigualdade social.
Outra passagem marcante ocorreu em 1995, quando ocupou o centro da arena do ‘Roda Viva’, da TV Cultura. Como sempre, ela não permitia ser interrompida por entrevistadores – especialmente os homens –, naquilo que hoje se conhece como ‘mansplaining’ e ‘manterrupting’.
A certa hora da entrevista, Maria da Conceição brincou sobre as raras vezes em que era procurada pela reportagem da TV Globo, mais à direita no espectro político, para falar sobre economia.
“Quando a Globo me entrevista, meu bem, é porque a coisa tá preta. Não é normal o Dr. Roberto Marinho mandar me entrevistar sobre coisa nenhuma.” A bancada inteira riu.
Nos últimos anos, Maria da Conceição Tavares viralizou nas redes sociais, especialmente no TikTok, com trechos de aulas de economia política na Unicamp, na década de 1990.
O estilo ‘sincerão’ da professora, ressaltado pela voz grave sempre em tom alto, e suas ironias sobre o mundo, conquistaram jovens que nem eram nascidos quando ela já havia se aposentado da universidade.