A situação mais incômoda e injusta no universo das celebridades é misturar na mesma superfície artistas profissionais, personalidades de mídia com alguma relevância e picaretas desesperados por visibilidade.
Pessoas honradas e criativas, com ética e bom senso, acabam ofuscadas no noticiário por aqueles que recorrem ao sensacionalismo e à superexposição da própria imagem para ‘lacrar’ e aparecer.
Alguns vão além: usam famosos queridos e com credibilidade como escada. Divulgam trechos de conversas, fotos e vídeos tirados sem autorização, postam relatos íntimos – nem sempre verídicos – nas redes sociais. Vale tudo para chamar a atenção, sair do anonimato e lucrar com a situação forjada.
Não há hesitação nem remorso em provocar constrangimento e dor emocional nos envolvidos involuntariamente na notícia planejada para ser escândalo. Ignoram a empatia – ou sequer sabem do que se trata.
Na novela 'Celebridade', de 2004, disponível no Globoplay, Darlene (Deborah Secco) e Jaque (Juliana Paes) representaram esses caçadores de flashes. Viviam atrás de homens conhecidos e dos paparazzi. Na vida real, a vulgaridade costuma ser ainda pior.
A fama devia ser sempre julgada pelos meios que usaram para obtê-la, escreveu o memorialista francês François La Rochefoucauld, 400 anos atrás. Mais contemporâneo, impossível. Ser famoso não é, necessariamente, ser admirado e respeitado.
Parte da imprensa participa dessa engrenagem viciosa. A pressão por audiência e faturamento induz inúmeros jornalistas a ceder espaço a perfis descartáveis. Afinal, desde que o mundo é mundo, notícia positiva repercute bem menos do que manchete apelativa.
O público que consome a banalidade desses personagens descartáveis ateia gasolina na fogueira da vaidade, enquanto foge da própria realidade monótona. Quanto maior a baixaria, melhor.
E assim brotam influenciadores sem conteúdo, modelos de pornô soft em plataformas adultas e outros tipos que vendem a alma para saborear – ainda que por míseros 15 minutos – a sonhada popularidade. Nem que seja a má fama.