“Toda vez que uma mulher se defende, sem nem perceber que isso é possível, sem qualquer pretensão, ela defende todas as mulheres”, escreveu a poeta, escritora e ativista Maya Angelou.
Infelizmente, o que se viu nas redes sociais nos últimos dias foi o contrário: incontáveis mulheres, de todos os tons de pele, engrossaram a onda de ódio contra a Miss São Paulo Milla Vieira. Entre críticas e ironias, foi chamada de feia e indigna do título.
Misses negras com traços associados à beleza europeia (leia-se lábios finos e nariz delicado, por exemplo) geralmente são mais aceitas pelo público. Não é o caso de Milla. “Me criticam por ser diferente, mas rio deles por serem todos iguais”, cantou Bob Marley.
Você tem o direito de não enxergar beleza nela e preferir outras candidatas do concurso. Esta liberdade de pensamento e opinião é inegociável em uma democracia.
O problema surge quando o julgamento gera depreciação, desrespeito e racismo (explícito ou velado). Saímos do campo da avaliação individual e entramos na crueldade coletiva do tribunal da internet.
A violência contra Milla Vieira explica a razão de tantos pretos optarem pela invisibilidade social. O temor de preconceito e humilhação faz o negro não se expor, mesmo diante de uma vitória merecedora de comemoração pública.
Sabe-se que há um preço caro a pagar quando se dá a cara a tapa. Vivemos em um país onde, na maioria das situações, é melhor ao negro ser sempre o 2º lugar, para não enfrentar a fúria de quem não aceita vê-lo no lugar mais alto do pódio e sempre encontrará uma justificativa para sua repulsa.