A GloboNews foi a empresa menos afetada pelos cortes de funcionários do Grupo Globo em 2023. As únicas âncoras demitidas saíram em circunstâncias incomuns.
Em abril, causou surpresa a dispensa de Leila Sterenberg após 25 anos de casa. Versátil e com alta produtividade, ela era acionada para apresentar diferentes programas, desde telejornal convencional a debate com comentaristas.
O último posto fixo foi no ‘Especial de Domingo’. A paixão por idiomas a fez se tornar uma das poucas apresentadoras com habilidade para a tradução simultânea. Fez entrevista até em russo.
De origem judaica, produziu relevantes conteúdos sobre o Holocausto. Destaque para o documentário ‘Cartas da Bessarábia’ (disponível no Globoplay), um mergulho em sua ancestralidade.
“Acho que me tornei uma profissional razoável”, escreveu Leila, com ironia, no post de despedida da GloboNews. Até hoje, colegas ainda não entenderam a demissão abrupta de uma profissional tão qualificada.
Sem tempo para lamentações, a jornalista, de 52 anos, logo passou a atuar como mestre de cerimônia e mediadora em eventos de empresas e instituições. Esteve com o ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair e o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-moon.
Comanda o podcast ‘Meio Tempo’, da FGV Rio, e faz entrevistas para as plataformas digitais do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). Produz também para o canal de YouTube do Instituto Brasil Israel.
A atuação no universo digital foi o mesmo caminho tomado pela outra apresentadora cortada da GloboNews no ano passado, Cecília Flesch, 39 anos. Após quase duas décadas, ela perdeu o emprego em maio devido à repercussão tardia de uma entrevista com observações sobre o canal e sua rotina no estúdio.
Frases soltas – a exemplo de ‘(A GloboNews) Tá um saco, só tem política e economia” – pinçadas do podcast ‘É Nóia Minha?’ irritaram seus chefes do jornalismo. A demissão parece ter acontecido menos pelas declarações ‘sinceronas’, e mais pelo barulho provocado nas redes sociais e por egos feridos na cúpula da emissora.
Desde outubro, a jornalista ancora o ‘RivoNews’ no canal homônimo no YouTube, disponível no Spotify. Transmitido ao vivo toda sexta, às 12h30, o programa de análise dos fatos conta ainda com Gabriel Wainer, Manu Musitano e Pedro Caramuru.
Cecília participa também do ‘RivoTalks’, onde entrevista personalidades dos mais variados perfis. Além disso, criou um curso de oratória chamado ‘Método Fale’.
Tudo indica que a televisão sente mais falta de Leila e Cecília do que o contrário. Exemplos bem-sucedidos de profissionais que se reinventaram após uma ruptura inesperada na carreira.
Sim, há vida inteligente e mais divertida fora dos estúdios de TV. “Precisei de um pé na bunda pra me empurrar pra frente”, escreveu Flesch em recente post nos Stories do Instagram. Mais didático e inspirador, impossível.