Um dos atos mais sábios de um ser humano é saber a hora certa de sair de cena. Temporariamente ou em definitivo.
No mundo da internet, essa grandeza é rara. A maioria se apega à fama de tal maneira que se torna refém de si mesmo.
Não consegue mais se ver sem sucesso, longe dos holofotes, sem despertar curiosidade e inveja.
Demonstra doentia necessidade de se expor para receber aplausos e likes. Fica dependente da aprovação popular.
Às vezes, a webcelebridade está decadente, vira alvo de desprezo e deboche, e insiste rastejar sob a sombra de quem foi um dia.
A decisão do influenciador Luan Ferreira, o Luva de Pedreiro, de abandonar as redes sociais para “viver uma vida normal” reforça o valor de não se acorrentar ao status e glamour desse meio.
Pode ter sido blefe ou impulsividade de um jovem de 20 anos, mas serve de gatilho para reflexão a respeito do ônus de ser famoso no universo on-line.
A pressão interna de se manter o tempo todo em alta é desumana. A qualquer momento pode surgir alguém mais interessante, mais bonito, mais sexy, mais engraçado...
Diante da ameaça de ser destronada, a personalidade vive em constante estado de apreensão por conta dessa concorrência real ou imaginária.
Afinal, como disse o psicanalista francês Jacques Lacan, “o eu está sempre no campo do outro”. Acreditamos ser o nosso reflexo nas outras pessoas.
Da noite para o dia, quem hoje se sente poderoso e amado pode acabar abandonado por aqueles que o tinham como ídolo.
Obrigado a tentar agradar o tempo todo, o famosinho da internet perde o direito a ter um dia ruim, um momento de mau-humor, sentir tristeza, querer privacidade.
Não são poucos os casos de influenciadores que passaram a fingir felicidade e, de repente, estão mergulhados em depressão.
Há ainda a radiação perigosa dos haters. Por mais que se tente ignorá-los, ninguém passa incólume por eles.
É demasiado humano querer saber por que alguém nos odeia e, frágeis como somos, absorver pouco (ou muito) dessa ojeriza destrutiva.
Ao desejar distância disso, Luva de Pedreiro mostra sabedoria instintiva.
Não tem estudo formal, entretanto, parece possuir aguçado senso de autopreservação.
Outros artistas do on-line deveriam seguir seu exemplo. Dar um tempo do cárcere claustrofóbico representado pelas redes sociais para cuidar da mente, do espírito, do coração.
Poucos estão dispostos.
E os contratos publicitários? E a meta de crescimento de seguidores? E o avanço dos concorrentes? E o vazio da vida fora do virtual?
A internet deixa a todos nós — anônimos e famosos — um pouco doentes. Sorte de quem busca se tratar enquanto há tempo.