Das dezenas de tipos vividos por Pedro Paulo Rangel em 53 anos de teledramaturgia, três deles se destacam pela semelhança poética.
O Audálio (que tinha apelido de Poliana) de ‘Vale Tudo’, o Adamastor de ‘Pedra Sobre Pedra’ e o Gigi Falcão de ‘Belíssima’ eram sujeitos delicados, românticos e solitários.
Serviam como melhor amigo, mas não despertavam o desejo ardente nem o amor cinematográfico. Orbitavam em torno da paixão dos outros.
Havia neles uma carência camuflada pelo carisma e a homossexualidade às vezes declarada, às vezes apenas sugerida.
Na vida real, o ator, morto por doença pulmonar aos 74 anos, talvez tenha tido a mesma sina. Nunca se casou, não teve filho, desconversava quando perguntavam a respeito de vida amorosa.
Os três personagens citados, assim como outros da carreira do artista, possuíam senso de humor e também eram melancólicos. Pareciam não encontrar um lugar confortável para se encaixar na vida.
Agora, Pedro Paulo Rangel leva consigo seus mistérios íntimos, sempre mantidos fora do radar da imprensa e do olhar curioso do público.
Resta tentar interpretá-lo por suas atuações guardadas em nossa memória, vistas em eventuais reprises e nos trabalhos disponibilizados no streaming.
Esse mistério é uma virtude. O ator deixa como legado a carreira bem-sucedida e o respeito à arte. As celebridades viciadas na superexposição da vida privada deveriam aprender isso com ele.